"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A janela

Admito minha morte, mais do que a do outro. Encaro com angustia o fim da minha existência, mas com total desespero a morte do outro. "Um novo tempo apesar dos perigos".

É um (re)começo. Destes vários que a vida promove. Uma nova vida dentro da mesma. Mas desta vez é definitivo, é inteiro e maciço. É o meu para sempre. Sinto tudo por inteiro, o que me exaspera, me consome, me extrapola e me encanta.

Não sou mais um ser apartado e dividido. Não sou mais bipartida, um ser em dois estados. Não estou em estado algum. Não estou mais cristalizada em passado ou futuro. Me crio a todo instante, exatamente sofrendo daquilo que nos retiram (ou tentam retirar pela sociabilização) a nossa capacidade de sermos deuses em nossas vidas. É a revolução criativa. Não quero e não serei mais um pepino em sua conserva cultural, mas algo multiplo e amorfo. O que soa tão ironicamente em tempos que moda e corpo quase ditam como vc deve ser, como se comportar e algumas vezes até como sentir o que bebe e o que come. Me recuso, me revolto e me rebelo desta forma.

Eu gosto de opostos, dispostos e nada de pressupostos. Sou semelhante a uma intuição, ou sou vivendo ou não sou me iludindo. Quero sentir o sentimento sendo o próprio. Não desejo mais vigias e nem grilhões.

Sou o ser livre que sempre desejei. E me oprime qualquer contra manifestação disso.

Portanto, decidi (e antes das famosas promessas de ano novo) que me livrarei de ambuiguidades de minha vida. Sei que não posso me livrar de todas, mas farei com que elas sejam mais produtivas em termos de existência.

Odeio e sempre odiei qualquer coisa que fosse o jargão: "o que os outros vão pensar..." ou "como vou ficar diante..." Me sentir vigiada, me sentir tolhida em meu espaço, e pior ainda ele sendo virtual... não quero. Deixo de lado, para trás e afastado de mim, mas jamais renegado este pequeno diário virtual.

Escrevi este blog num estado específico de minha vida, de minha história e fez parte daquilo que me faz uno. Há várias cartas escritas para o mar. Este agora que contemplo e me faz ser uno. è o movimento de casar, unção com o mundo. O meu mundo. O meu horizonte de existência.

Não sou uma sereia, nem uma ninfa, e nem mais menina. Me torno agora um ser híbrido em um abraço eterno.

Eu quero estar disposta e intensa. Quero me dedicar em existência a outras coisas. Fechar gestalts, para abrir outras.

Sei escrever. Acho. E por isso me desvencilho da tecnologia (isso não é apenas porque meu computador tem Inteligencia artificial e joga fora minha tese e/ou por causa do apagão em SP nesta semana). Mas não quero mais digitar e as palavras quase estarem prontas. Às vezes nem são as que desejo, as que eu quero. Mas vão. Acabam sendo. É uma imposição de expressão, assim como regras de etiqueta, pura homogenização. Um traço de mim concorda, buscando o rasoável. E como isso é medíocre. Não quero isso para meus textos e nem para mim. Eu não quero escrever o rasoável, pq eu não sou uma pessoa rasoável, muito pelo contrário.

Não procuro escrever uma carta de despedida, um bilhete ou lista de compra ou afazeres. Quem sabe a composição quase escolar sobre o que não fiz, sobre o que não vivi? Isso será um pequeno segredo. Como uma dupla face, posso e quero. A vida pertence a mim e não aos outros.

Vou me dedicar ao inexplicável. Ao que ninguém sabe, nem eu. Sobre o que escrevo de próprio punho, e quem sabe coloque em letras normais ou eu admita realmente o seu "aprisionamento" em um de meus diários. Deixar meus hieróglifos manuais em paz. Não tenho mais a pretensão de fazer alguem entender o que não entendo. Porque isso se tornou um meio de vigilância. Queria apenas transmitir sentimentos.

Quero sorrir, neste momento, mas não consigo. Mas estou em paz. Paro antes que tudo isso se torne algo perverso. Perverso no melhor estilo psicanálitico, uam inversão completa da libido. Por isso, não me sinto culpada por terminar algo. E nem por não estar gargalhando. Não tenho a obrigação maníaca de estar sempre feliz. Isso é quase um desespero. Estar sorrindo e gargalhando o tempo todo. Existem outros estados que não são apenas felicidade e tristeza. Não há só o branco e preto, e entre eles o cinza. São as cores que nos dão a forma. As palavras são o leve rabisco de algo. Mas parece que minhas emoções estão gagas, inseguras e por isso vão se calar, silenciar neste espaço. Não sei se para sempre. Mas para um hoje bem prolongado.

Esta é a minha manifestação diante da descoberta da finitude. Do irreversível. Tenho medo. Não de mim, mas da inexistência do outro. E é por ele que me entrego mais e mais. Fico as vezes sem rumo, porque o limiar antigo, não serve. Ainda bem...

Dou meu ultimo salto aqui. Há morte. Há sentimentos ruins. Há pessoas não de bem com a vida.

Não quero. Bato o pé. Sou assim mesmo, teimosa e indomável. E não vendo limites, apenas horizontes.


"Não há como não pensar na morte,

entre tantas delícias, querer ser eterno"

(Adélia Prado)

Um comentário:

thiago.sanand@gmail.com disse...

pow Lau... assim não vale... será que as "obrigações" da vida nos deixam todos assim???
tomo a liberdade de tornar meu esse seu protesto... sentindo absurdamente alguma coisa muito parecida... chegando à isso pelo tédio, não pela morte...
agora eu vou seguir seu blog, blz?

Bjos,
pra vc e pro Dão

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