"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quarta-feira, 11 de março de 2009

Mudanças....

Cheguei esbaforida à rodoviária. Cheia de malas e expectativas. E simplesmente nenhuma idéia do que estava acontecendo ao meu redor. Apenas e tão somente esperava pelo trem. Olhava atentamente a pequenos ratos que passeavam pelos trilhos. O telefone toca. É uma amiga. Não qualquer amiga, é a Amiga. A voz rouca do outro lado diz: "_ Bem-vinda a sua nova vida. Finalmente você veio." Fico quase em choque, já não sei mais se olho para os pequenos ratos nos trilhos ou se respondo o que minha amiga acabara de dizer. O choque com a realidade foi muito brusco. A espera acabou. Meses e meses, falando, sonhando, planejando... e aconteceu... chegou março e toda a sua confusão. São fusões e confusões de sentidos, cores, sabores, forma, afetos e (pseudo)racionalidades e uma pitadinha de nostalgia. Um velho sentimento ja havia sido revisitado ao entrar na sala de aula, agora em SP, são os novos sentimentos, as novas aventuras. O novo mundo ansiado cheio de coisas, sabaores, experiências. Mas com as boas e velhas amizades, as boas e velhas expectativas de quem está de novo seguindo o plano de vida traçado. Se houver algum extase de felicidade, acho que é isso que eu estou sentindo. Se 9 é a perfeição. Então venha, que o resto é perfeição.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Its takes two tango

Desde o início da vida temos a sensação da completude, ou melhor, a ilusão. A primeira fantasia elaborada pelo aparelho psíquico (analógico, espero...rs) é: somos um ser único com nossas mães, simbióticos. E é aí que o bicho pega, passamos o resto de nossas vidas procurando embusca da sensação de completude, seja um amor romântico, seja por trabalho, seja por completar uma coleção de selos.

O primeiro exemplo, o amor romântico, que por convenções midiática-histérico-cinematográfica, com direito a roteiro fantasmático elaborado com cenas e diálogos, buscamos momentos de completa extase. A montagem da cena e a sua rigidez já demonstra a problemática do descolamento de qualquer possibilidade de realidade, ou melhor, há a relidade apenas como algo frustrante e terrivelmente infernal.

Por isso, chegamos ao segundo exemplo, o trabalho. O trabalho propicia a ilusão de que temos autonomia, que não precisamos do Outro. O que alimenta mais uma vez a fantasia primária com a mãe, isto é, para que eu preciso dela? Eu me mantenho sozinha, eu consigo as coisas por mim mesma sem a ajuda de ninguém!!! Outra vez a ilusão e o engano, porque mesmo assim ainda preciso do Outro para me reconhecer. Preciso do olhar que me olhe. Ou, exatamente o contrário, preciso do Outro para me constituir. Necessito dele, necessito do que vejo nele e acho que é meu para eu poder existir. Vivendo assim um falso self. Um eu inventado por aquilo que eu acho que Outro vê em mim. E recai assim em uma das perguntas mais velhas do mundo: Quem sou eu?

Ok, resitências a parte, ver que vivemos sim em uma matrix ou em um país das maravilhas, traz a sensação de que a gênese dos nosso problemas está na relação daquilo que é objetivamente percebido e aquilo que é subjetivamente concebido. E querido leitor, sinto muito, mesmo oferecendo meus préstimos como psicóloga, não há solução!!! E direciono isso a uma amiga... não há solução mesmo amiga!!!

Para fugir desta dor, e de tantas outras, criamos um espaço intermediário - uma área lúdica - da experiência, para que haja algum tipo de relação com o mundo com menos dor possível. É por este espaço que "apelamos" para medidas que nos "elevam", que nos façam ter sensação de trans-qualquer-coisa.

Somos inventores de nós mesmos. Sonhamos, deliramos, fantasiamos com esta elavação. Vivemos, então, mergulhados em nostalgias, na procura do objeto perdido, da emoção perdida. É quase numa melancolia, transfigurado em um morto-vivo, zumbi, fantasmam, entre outras figuras do halloween..não o vampiro... um dia explico porque. Mas é o apoio a esta imagem que quase leva a uma alucinação, ou num senso comum : a obsessão.

Jogamos com o Outro por causa da precaiedade da interrelação, o que fica entre uma realidade objetiva (do que se quer) - individualmente e pessoalmente - e a experiência do controle, da onipotência da situação, que por sua vez se inclina para o Outro. Prefiro considerar, assim, o amor como sendo a fusão de uma expressão de pulsão de sentimento (eros) e a idéia não elucidada nossas difildades, a idéia não elucidada do que vem a ser o Outro e como me relacionar com ele.

Titio Freud diz que o amor não admite apenas um, mas 3 OPOSTOS. Além da antítese "amar-odiar", existe a outra de "amar-ser amado"; além destas, o amar e o odiar considerados em conjunto são o posto da condição de desinteresse ou indiferença. A segunda dessas antíteses, "amar-ser amado", corresponde exatamente À transformação da atividade em passividade e pode rementar a uma situação subjacente, da mesma forma que no caso do instinto escopofílico (gostar só de olhar). Essa situação é a de "amar-se a si próprio", que consideramos como sendo o traço característico do narcisismo. Então, conforme o objeto ou o sujeito seja substituído por um estranho, o que resulta é a finalidade ativa de amar ou a passiva de ser amado - ficando a segunda mais perto do narcisismo. Talvez chegue-se perto de uma melhor compreensão dos vários opostos de amar, se refletir que a vida mental é regida por tres polaridas, as antíteses se traduzem, então: 1) Sujeito (ego) - Objeto ( mundo externo) - é lançada sobre o organismo individual numa fase inicial, e que é soberana em nossas atividades intelectuais (racionais) e cria pesquisa para a situação básica que esforço algum pode alterar. 2)Prazer - Desprazer - ligada a uma escala de sentimentos cuja a importância suprema está na consolidação do que é fantasia e do que é realidade. É a dominação dos estímulos. 3)Ativo - Passivo - o sujeito é passivo no tocante dos estimulos exteros, mas ativo através de seus proprios instintos.

O que, então, fica é que tudo não passa de pequenos jogos ilusórios. "O que é um flerte? Pode-se dizer que é um comportamento qu deve dar a entender uma aproximação sexual é possível, sme que essa eventualidade possa ser entendida como certeza. Em outras palavras, o flerte é uma promessa de coito, mas uma promessa sem garantia." (kundera - A insustentável leveza do ser)

E que até dentro de um relacionamento estabelecido com regras e confiança, os jogos são solitários. É apenas a trama da ilusão do eu se entrelação com a ilusãodo Outro. Ou quem sabe, de si mesmo num prazer sádico, de jogar com a realização ou não realização do Outro.

O jogo da conquista é isso? Mostrar para o Outro que a realização dele depende só a minha vontade? Constituir o espaço intemediário para provocar a fabricação de fantasias bricadeiras e depois deixa-lo apenas com as imagens? E não se iluda, novamente, isso pode ser efeito tanto na ausência como na presença. Tudo faz parte do cenário, é esta construção imagináira que traz de volta o que acontece dentro do "brincar".

Como tudo parece tirânico, sádico e dotado de maldade. Então, aqui está o golpe final, a relação "só" evolui quando com cuidado se faz uma zona em comum, com cuidado suficiente, em que as fantasias do eu (minhas) se ajustem às fantasias lúdicas do Outro (dele).

Mas não se esqueça, baby... a existência é solitária. E contra isso, não há nada que se possa fazer.


Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio/ E a minha ambição era trazer o universo ao colo/ Como uma criança a quem a ama beija./ Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,/ Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo/ Do que as que vi ou verei. (Acordar – Álvaro de Campos)

domingo, 8 de março de 2009

Apenas mais um post em um blog falando sobre Slumdog Milionare

Inicio o assunto OVACIONANDO a pessoa que em algum momento não só pensou como fez os maravilhosos programinhas de troca/download de informação. Agradeço mais ainda a aqueles que não só baixam os filmes como os disponibilizam. E por último, parecendo quase um discurso do oscar, a alguém que postou em algum lugar uma frase assim: "piratear filmes é vendê-los, baixar e assistir é participar da sociedade da informação". UFFAAAA.... toda a minha possível culpa de contribuição ao crime organizado e a violência foi incrivelmente extinta. Me sinto quase como uma nova versão do santo BitComet... rs ... Lau versão 2.7... rsrs...

Ok, mas o assunto não é este. Depois de ver várias discussões (amigos, fila de banco, sala de aula, entre outros) vi que estava quase impossível não comentar Slumdog Milionare. Afinal, o assunto é mais popular do que o BBB...rs... Fique bem claro que não sou nenhuma especialista em cinema. Sou apenas uma pessoa que vê e que tem opiniões sobre alguma coisa.

Não acho que Slumdog mereceu o oscar de melhor filme. Não com as justificativas dadas. A escolha foi claramente política, reforçando um discurso de engessamento de determinadas "ordens sociais". Já explico. O filme trata de um garoto, slumdog (favelado), que vai a um programa de TV para conquistar uma pequena fortuna e assim salvar o amor da vida dele. Ao meu ver, um filme romantico naturalista num cenário subdesenvolvido, inclusive, com direito a mauzinho e bonzinho.

Jammal (o herói ressurgido dos excrementos - cena polêmica do filme) só conseguirá ser algo ou alguém por golpes de sorte, o que fica demarcado o filme todo, jamais pela trajetória de sua vida. A escolha se deve muito mais a um momento "yes, we can do", motivado pela eleição do Obama e todo o sonho americano, do que exatamente por merecimento. Fica evidente o "yes, we can do" um filme com orçamento baixo, num lugar estranho, com um elenco $em e$strela$, do que qualquer tipo de significação mais profudna do filme. Também, porque não tem... Creio eu.

Perguntas: será Jammal um dalit? Será que Bahuan estava fugindo também da mesma carnificina? O que teria acontecido se Jammal tivesse sido recolhido por Shankar?

Faço esta mistura só para dizer o que realmente me choca: o jogo de estereótipo.

"Os culturalistas iriam dizer que"... não é dar importância ao filmes em si, mas o que se pode ver com ele. Em Slumdog pode-se especular sobre as mediações, de como um menino sem instrução teve acesso a determinadas informações só pela vivência. Logicamente, que a beleza está nos olhos de quem vê. Logicamente, vejo isso porque sou fortemente influenciada por esta "vibe" teórica. E vejo também que, tanto Slumdog como Caminho das Indias tratam de uma Indía que duvido eu seja aquilo. Talvez um misto das duas? Sei lá... acho que só indo para lá mesmo... (aceito financiamento) ... mas as duas produções midiáticas tem uma coisa em comum, além da própria india, retraram a mesma coisa, isto é, o que é, é e não pode ser mudado, a não ser num golpe de sorte. Num dia auspicioso.

Realmente não consigo entender o que faz tantas pessoas falarem sobre a cena de que o "heroi" sai dos escrementos... aff... ok, não é uma cena agradável... o filme em si não é um Matrix ou Um lugar Chamado Nothing Hill (filmes que eu assisto várias e várias vezes sem enjoar).. mas não acho que seja para tanto. Existem filmes com cenas bem mais desagradavéis ( as quais logicamente fogem completamente da minha mente no presente momento).

Digo já, que outra coisa que me irrita é o mito do filme cult. Dizer que o filme é assim, é assado só porque trata de uma marginalização tal... Concordo plenamente com o canavalesco Joaozinho30, quem gosta de pobre é intelectual. Deixa vc ficar sem dinheiro no final do mês, cortarem a sua luz ou vc ter que sair do conforto da sua casa com internet, geladeira entre outros eletrodomésticos, para ver se há alguma poesia na pobreza.

Aff... fala, fala, fala... e não se chegar a lugar nenhum??? O filme não é algo que denuncia, que modifica, que faz refletir (proposta esta que entendo ser dos filmes "cabeça"), por isso, reforço a ideia de que não passa de um romance em país subdesenvolvido.

Agora, ao assistir Milk e a Troca, embora sejam filmes americanos ("morte aos yankees e seu american way life"... aff...), trazem para mim algo muito mais significativo. Falam para mim de que é possível fazer algo, mudar algo, nem que seja numa tomada de consciência no meu aniversario de 40 anos (vide milk) ou seja diante de uma injustiça e que não se pode calar (a troca). Nenhum dos dois tem um happy ending, mas a ação por si só já era uma resposta.

Opiniões são opiniões... registro a minha, assim, quem sabe não consigo iniciar alguma movimentação.... quem sabe....
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©2007 '' Por Elke di Barros