"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sábado, 4 de abril de 2009

Fragmentos de um livro que ainda não foi escrito



São com estranhos que compartilho meus segredos. São estas estranhas testemunhas anônimas, uma multidão de desconhecidos que vem mais dos meus segredos do que os que estão perto. Os meus momentos de mais pura descoberta é no frenesi da cidade, de seus passantes, de seus carros. Eu, mais uma anônima, vivo. Começa a construir minha nova persona. Estas pessoas que obscuramente presenciam as cenas mais delicadas, mais verdadeiras da minha ação. Testemunhas daquilo que deveria ser desconhecido. Protegem meu segredo, exatamente aos olhos de todos, na multidão. O aglomerado sem forma, sem rosto, apenas corpos. Corpos que encobrem o escândalo, o que seria visível, agora, diante das testemunhas silenciosas algo acontece. Algo que é como um acontecimento vulgar, ordinário e completamente imperceptível no vai e vem dos carros, dos corpos, das coisas completamente sem nomes. Só a ação do não-ser, do estranho, do desconhecido dentro do conhecido. Na verdade que faz parte de mim, faz parte do meu cenário e da minha fantasia histérico-cinematográfica. Este filme que poderia ser assistido por esta multidão que não se dá conta do espetáculo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fernando traduz os pensamentos em palavras...


Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo, com que não há comunicação possível, nem há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma, senão da nossa.

As almas dos outros são olhares, são gestos, são palavras, supondo-se qualquer semelhança no fundo.

Entendemo-nos porque nos ignoramos.

A vida que se vive é um desentendimento fluido, uma média alegre entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

Asas - Adriana Calcanhoto


SUAS ASAS, AMOR

QUEM DEU FUI EU

PARA VER VOCÊ CONQUISTAR O CÉU.

OBSERVER TUDO EMBAIXO SER

MENOR DO QUEVOCÊ,COMO TUDO É,

E ENQUANTO ARDE A CORAGEM DOS DESEJOS SEUS,

SEM VÉUS,

[PROTEUS]ABRA SEUS POROS E PAPILAS E PUPILAS
À LUZ DA MANHÃ

E MUITO ACIMA DE IPANEMA

TÃO PEQUENATÃO VÃ

VIVA O PRAZERO SOM O ESTRONDO

DE UMA ONDANA ARREBENTAÇÃO

ENQUANTO EU PIRO Á SUA ESPERA NA ESFERADO CHÃO.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Só Fernando para agora...

"Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento e que consisto"

(Fernando Pessoa)

1o de Abril é de Mentira????

Esperando num lugar surreal. Um misto de luz e sombra, é um entre. Diz a lenda que se pisar na sombra de alguém, a pessoa passa a te pertencer. É por isso que estou sempre transitando, quase imagética, assim não tenho sombra. É entre as frestas do ser e do existir que eu me embrenho.
O preço dos devaneios profundos é momento do retorno, o reencontro com o antes e o agora. Tudo parece distorcido, estranho. Minha fantasia antes cheia de detalhes plausíveis, transforma-se numa bagagem. Na babagem de uma passageira que não deixa rastro por onde passa, por uma transeunte dentro da massa dura do real.
É díficil distinguir agora o real do abstrato. As idéias estão confusas. Os sentimentos difusos, espalhados, quase sem fronteira. Mas não perdi o poder demiúrgico de criação, de entrega, do sonhar. Só que parte do que era evidente agora se embarala, o que causa mais ainda a confusão.
Estou de volta a um mundo que não posso criar, tenho que apenas esperar. Tento aplacar a multidão feroz dos personagens que me habitam. Porém, tudo é claro. Num dia de mentira, várias verdades me cercam. O que posso esperar do dia de amanha? Um dia de verdade cheio de mentiras? Constato que sempre tem a encenação do que seria de "verdade"!
É um espírito de resistência idealista toma conta de mim, a exuberância de uma esperança tola e inocente. Subo a encosta ingreme do abismo que me espera. Subo, subo... espero que alguma coisa importante aconteça. Tranquila e obstinada. Não me satisfazendo só com o imaginado, mas em posição para lançar mão dos acontecimento reais, porque as fantasias... estas se desfazem como as fumaças dos cigarros que já não fumo mais.
É uma singela e simples a mensagem.

Crenças

Quem irá se deitar no chão por nós? Quem seria capaz de dar sustentação? eu? você?
Como se fomos capazes de tantas coisas?
Será mesmo necessária a salvação cristã? precisamos tanto ir parao céu? ficar almejando um susposto paraíso tedioso em que nada acontece senão a redundância, eternidade eterna?
Não é fácil. Mas também não é dificil. Impossível? Tampouco.
O amor é uma coisa distraída, quase impotente. O que o amor quer, não pede. Já não há obrigação, por isso é grandioso.
Constroi-se peça a peça, acontecimento por acontecimento que faz uma história. História esta cheia de tramas e enredos, pequenas complicações que geram a emoção, o frio na barriga.
É algo que sempre acontece, mas com seus mitemas e mitologemas (re)organizados, é a explicação que consigo dar ao amor.
Algumas vezes só uma quase morte ou uma morte simbólica inteira para que os sentimentos se despertem, que faz alvorocer os afetos. Amar a si, amar o Outro, amar a trajetória. Nada prova o amor em si, quem sabe o amor para si. Só não vale cair nas armadilhas matreiras do erros vulgares dos louvores aos defuntos. É o cúmulo do desnecessário, do desinteressante. Por mais que a curiosidade mórbida assole os pensamentos. Esta curiosidade é a reforçadora do "ele não é para mim". Tudo deve ser ao contrário.
O movimento deve ser de reconhecimento da superioridade da benevolência e serenidade.
É preciso que alguém tenha a palavra inicial, certa e segura, que contenha, amapare. Senão as escusas racionais baseadas nos fatos levantados pela curiosidade mórbida mais as fantasias destruídoras irão sucessivamente uma substituindo a outra, quase que automaticamente. è o mecanismo perverso que faz com que os sonhos não sobrevivam aos testes de realidade.
Eis o agradecimento de uma atriz, roteirista e diretora que toma sua própria vida em talagadas diárias. E que não deixa de acreditar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Realidade? Ou Realidades? Ou puro devaneio?

Se eu considerar o tempo psiquico que vivemos. A frase ja cria uma serie de contradicoes... tempo? Psiquico? Vivemos?
O tempo ja é há mto tempo considerado algo abstrato e sem forma. A unica coisa que o faz ter algum "nexo" é o espaço. Se considero o espaço a psique... pronto! O furdunço fica ainda maior. Será que dá para falar de uma psique? será que dá para pensar em consituiçào não prática e objetiva num tempo em que só se pede para se consumir e não importa o que. E último... viver... bem, este terceiro foi atiçado não só por minahs experïências eternas de questionamento sobre viver ou não viver, mas por uma conversa ontem a noite por msn. O que é viver? é o que passa pelo meu corpo? é o que consigo lembrar? Mas tudo isso não faz parte da psique? E a psique não é destituída de tempo? Afff... acho que já dá pra sentir o que teremos pela frente...
Mas será que há uma evolução? Digo mesmo num sentido darwiniano. Os mais fortes sobrevivem nesta selva de pseudo sentimentos e fortalezas racionais? Penso que esta suposta evolução nos levou a uma analfabetização emocional. É quase uma incitação contínua para que tenhamos um comportamento maníaco... e isso nada tem haver com estado, mecanimos capitalistas.... tem haver com o fato de não saber mais viver.
Hoje no onibus eu fiz uma pequena contagem. Havia 6 pessoas lendo, além de mim. 3 destas pessoas estavam com algum best seller. As outras 3 estavam com um livro de auto-ajuda, inclusive a menina que estava ao meu lado. Curiosa como sou, olhei para a página aberta em seu colo. Lá estava. Reluzindo. Destacada sem pudor algum a frase chave para ela:"Pense como um homem se quiser o conquistar".
Neste momento comecei a automaticamente a pensar: Como assim pensar como um homem? - compra playboys? Acompanhar o campeonato brasileiro, estadual e municipal de futebol? - espera. Pense. Como pensar como um homem? Cheguei a parca conclusão que se trata de pensar e remeter mensagens para o suposto homem que habita meu ser feminino. Bem, comecei a delinear uma série de caracteristicas.
Racionalidade, não delicadeza, uma certa propensão a relacionamentos extra conjugais, não paciência, incapacidade de encontrar algo na geladeira, influencia direta dos amigos sobre as suas decisões, falocentrismo, egocentrismo, pulsão sexual beirando a fixação patológica.
Ok... acho que já deu para começar a sacar o que eu quero dizer com isso.
Olha quantas imagens negativas. Olha quantas coisas vão se formando dentro de um achismo. E é nisso que acabamos por nos apoiar, pq somos mancos, para nos relacionar.
Entramos num delírio, em que o modelo central, ao invés de ser o sonho, as fantasias, é pura persecutoriedade. Rejeita-se qualquer tipo de representação, ou apreensão, de alguém pela experiência. Lógico, é mais fácil se preparar para derrota, ter o script inteiro já escritinho e redondinho. Recalcar qualquer desejo, é ter o Outro no sentido de uma sublimação muito mais ligada a tecnologia da sedução com técnica e etc, do que a impulsividade das ações espontaneas.
O que quero dizer, é que isso configura quase um estado de neurose abstoluta. A realidade do fato vivido, é substituido por um fragmento de realidade completamente fantasiado. É uma construção mórbida, destrutiva. E neste delírio, não há como reconstruir este Outro. Pq o apego a catastrofe imediata faz com que o mínimo gesto do Outro se torne uma das trombetas do apocalipse. É o fim dos tempos.
O resultado disso? é um rompimento com a realidade, rompimento com as experiências... Não há o movimento do dentro para fora, mas é o para fora "ameaçando" o dentro.
E o amor por si? O narcisismo? torna-se mais do que o investimento no eu, mas o abandono de qualquer tipo de investimento no outro. Até mesmo o negativo.
Nos tornamos melancólicos, triste e paralisados. A eterna dor da perda e sem nem ao menos saber o que perdeu. Pq estamos tão fixados com estas imagens, com estas imagens persecutórias do mundo que nos deformamos, renunciamos a qualquer tipo de unidade para fazer parte de um todo amorfo e cinza, nos comportamos como se tudo já tivesse sido conhecido. Num eterno blase emocional. Eu sempre entediado comigo mesmo... afinal... sou obrigada a viver comigo para toda a eternidade.
Sem o Outro não tem a novidade, o desafio, o desejo... não tem o saltitar de emoção, não tem o rosto pegando fogo por um mínimo gesto feito, não tem, não tem... é só recusa, sem nada a ser aceito.

O tempo


O tempo é sucessivo porque, tendo saído do eterno, quer voltar ao eterno.
Quer dizer, a idéia do futuro corresponde ao nosso desejo de voltar ao princípio.
Deus criou o mundo
E todo o mundo, todo o universo das criaturas, quer voltar a este manancial eterno, que é intemporal, não anterior nem posterior ao tempo, mas que está fora do tempo.
(JL Borges)
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