"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sábado, 2 de maio de 2009

Um sábado em São Paulo

De que são feitos os dias? - De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças. Entre mágoas sombrias, momentâneos lampejos: vagas felicidades, inaturais esperanças. De loucuras, de crimes, de pecados, de glórias, - do medo que encadeia todas essas mudanças. Dentro deles vivemos, dentro deles choramos, em duros desenlaces e em sinistras alianças... (Cecília Meireles)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Pessoa que há em mim

Não sou uma, mas várias qe habitam o mesmo o corpo. Fragmentos e multiplicidade de um mesmo eu, fundidos e incorporados no fluxo das experiências e vivências. É o fundo traço maníaco que há em mim. Os trânsitos e fluxos rápidos que me fazem ora me fixa num lugar, ora me fazem movimentar. É minha tendência psíquica para a desorganização, para o caos, o salto incerto para o infinito. Esta tendência por vezes fica armazenada, encolhida, escondida de quem é direcionada. A vazão só é percebida por quem não é objeto da mesma. Acontecendo assim a inversão entre público e privado, num mecanismo claro de defesa do eu. No contato com o Outro, ao invés da explosão, há a implosão.
Vivo os sentimentos e afetos da forma egoísta, intimista e interna. Só eu os desfruto e agora os sublimo, escrevendo, exercendo a catarse. Não me permito ataques que possam alardear, por isso, todo acaba em silêncio das palavras e gestos rápidos e barulhentos do escrever (o som desritimado do teclado). Tive desde sempre a tendência a me cercar de fantasias, assim, fico protegida em meu mundo das possíveis ações externas. Crio grandes romances que não tem a menor pretensão de aconteceu. Sonho sonhos construídos quase de forma alucinatoria, compreendidos dentro de seu próprio contexto - minha cabeça.
Por isso meu desejo de ficar/ser solitária, em meu desejo, na minha falta de si escrevo coisas que desejaria receber para mim mesma. É quase um ditado de minhas emoções aprisionadas, quietas em sua borbulhância. Assim criei e popaguei histórias que nunca vivi, mas que ainda hoje (meio esquecidas, meio lembradas) fazem parte do que sou e do que não sou. Ouço, vejo, sinto saudades, uma pequena nostalgia que me surpreende quando rasgam minha concentração em lembranças desconcertantes. Isso parece quase com um poder demiurgico de criação do mundo, porque quase exclui uma alteridade para a crianção acontecer. Claros e exatos como sombras humanas, este(s) outro(s) criam vida, se movimentam, falam comigo.
E o que acontece quando sai da fantasia?
É o sentimento de urgênca que começa a rondar, a forma quase natural da minha existência.
Hoje já não tenho nada fixo em mim. Estou fragmentada e pluralizada. Dividida entre meus amores, paixõs, dos quais sou autora e executora, o ponto de reunião de uma humanidade só minha. Trata-se do meu temperamnto dramático e impulsivo levado ao máximo - escrevendo em devaneio ao invés de atos e ações direcionados ao Outro. Porque a presença do Outro me cala, me silencia, faz com que meu desejo seja apenas experenciar, desgustar a presença.
Desejo escrever tramas e dramas em almas e existências neste momento. Estes movimentos aparentemente tão confusos de minha existência, abro para as várias interpretações que você tem ao me ler. Caio na tentação de lhe direcionar o olhar para as questões: q raio ela está a falar? De quem está a falar?
E eu digo a você: não faça perguntas normativas de fundo patologizante. Entregue-se a isso que ofereço, meu fluxo vital traduzido em palavras. Por que não me custa dizer: "Sou louca" Pq assim já sou nomeada em vários momentos e ja não me atinge mais, não faz diferença. Sei que sou tão louca quanto você, por isso, continuo a escrever, uma produção da loucura, um liberdade expresa e explícita.
Por mais que se esboce e se apague ou deixe morrer alguns textos em meu diário, hoje não. Hoje eu quero que isso viva e de certa forma se eternize em você que está me lendo. Quero esboçar um vago retrato, para que você possa se identificar (aceitando ou negando) o que ofereço. Nasce assim, sem eu saber bem ao certo, um vínculo. Embora eu não saiba, eu o desejo ( mesmo que não sinta sua falta pq o desconheço). Sei apenas de números e estatísticas. Mas desejo, quase que num impulso exibicionista, me apresentar nesta índole: nua, crua,confusa, divida e fragmentada em meu contexto. Travo dias de pensamento sobre isso, assim como travo dias de pensamento para esquecer isso também. Por isso emudeço na presença, tenho que me expressar, sem conseguir definir qual palavra deve sair primeiro. Mas sei que o dia triunfa chegará, e que abrirei não só minah boca, mas meus braços e meu coração/minha alma.
Deixarei de ficar guardando meus rebanhos e os escondendo de um pretenso predador, metaforizado em lobo. Será o aparecimento de alguém em mim. A quem dou o nome de Outro, porque é o não-eu que faz parte de mim. Aparecimento em minha angustia e dor. É o regresso de mim, após a abertura para o encontro do Outro. Sendo a reação do eu conta a inexistência diante do Outro.
Logo descubro este Outro e você, inicio a jornada maníaca de procura da despotencialização, a latência que fez o Outro se aderir/adaptar a mim. De repente em derivação oposta, o fenomeno se reforça. E um novo indivíduo surge de um jato amargo sem emenda de uma ode triunfal do Outro como algo que me agride, que fere. Mas com o nome que tem, independente da minha vontade e nomeação.
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©2007 '' Por Elke di Barros