"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Chave


Quem tirou a chave de não sei onde, a chave de não sei o quê.

Entendo que se passa e não tenho problemas neste particular.

Entender.

Mas sinto e temo que estou a beira de um enguiço.

A beira da clausura em mim mesma, da casa, dos olhares, tudo me parece ser arame farpado.

Que dura e curta esta vida para tantas possibilidades e vontades.

Só te pergunto sem interesse de resposta: trouxeste a chave.....

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ela, a personagem

Existem amores que começam a diluir no primeiro segredo. Parece que o segredo é algo que não se pode compartilhar. Pois os segredos que falados calam. Creio que o segredo seja um pouco como os sonhos, se falados são extintos em sua natureza, deixam de pulsar.
Agora, a lógica inversa, parece existir. O amor começar de um segredo. O segredo ser o proprio amor. Algo que se inicia entre duas pessoas, mas que não é nominado. Não pode ser. Mas ele existe, no olhar furtivo, no toque despretensioso, na palavra espontanea dita. Coisas que são cifradas por estes dois. Ninguem mais sabe. Nem eles mesmo sabem.
São dois a andar numa corda bamba, entre realidade e fantasia. Não se sabe bem ao certo o que é uma coisa ou outra.
Existe uma vontade e um desejo. Aparentemente nenhum dos dois é conflitante.
Ela percorre com o olhar lugares em não pode tocar com as mãos. Ela consegue assim trabalhar outros sentidos, outras formas. O olhar. Ela o toca com o olhar. E este não é mais displicente. Ela sente seu cheiro, como se a adentrasse, como se começasse a estar dentro dela, mexendo com ela. Ela começa a sentir que as coisas que não estão mais nela. Mas nele.
Ela sente que se perder a ilusão da comunicação com ele, ela ficaria num modo agônico. O vazio apareceria e ao ouvir-escutar aquele homem seria o mais duro golpe de realidade. A violencia.
Ao escrever isso provoco mais uma violencia nesta personagem do meu imaginário. Escrevo expondo a sua dor, a violencia mas sem ter o corpo. Esta personagem que pode ser qualquer pessoa. Ao falar mais dela, de seus sentimentos, quem ler poderá sentir em si o peso da culpa. todos estamos cheio de culpa. E é isso que nos devasta.
Falo de um reencontro. De um momento que em que ela irá reencontrar este homem. Esta pessoa. Mas não é um reencontro como os outros. Não é um reencontro que acaba com um sorriso furtivo no corredor e que pode acabar com dois embolados em algum lugar, que nem ela sabe onde é. Mas ela ainda sente no corpo a textura grosseira dos lençois baratos lavados sem amaciante. Sente também a mão dele tão bem encaixada em suas curvas, em sua nuca. O peso do corpo dele sobre o seu. O peso que parece ter sido tão deliberadamente medido e distribuido. Ela fecha os olhos, sente um arrepio. Fecha os olhos para intensificar a sensação que arrepia o ventre. É quase como se ele tivesse ali, dentro e ela novamente, lá.
Seu olhar irradia uma nostalgia sinestésica. Nostalgia porque é a saudade do que não foi. Parece paradoxal, mas estou a falar de um ser abstrato, portanto, não há como saber o que aconteceu ou deixou de acontecer. Ela, a que me refiro, é um ser abstrato, que toma forma, conforme eu digito. Mas nesta coisa meio fantasmática. O Corpo Dela exala um cheiro, um aroma, uma nuvem dele sublimado.
Ela supoe ser uma alma atormentada por paixões não terrena. Uma paixão não terrena. E que aqui não se pode realizar. Ou até pode, mas não neste corpo cristão, marcado pelo signo da culpa e dos pecados que (não) suporta. Ela no exterior parece alguem deslocada do mundo, quase com uma voz mansa, mas que esconde uma intensidade explosiva. O seu sorriso ora maroto, ora ingenuo, se esconde uma vontade de ferro, que no calor pode ser moldar, endurecer e também mudar de forma. No meio do abraço há o coração, que ela procura atender seus caprichos dentro do possível. Ele é um capricho. Ele é o capricho mais dificil que seu coração já enfrentou. E ela não pode mudar de idéia. Se mudar, é leviano. Estamos falando não apenas de um corpo cristão, mas de uma mente cristã.
Se ela mudar de idéia no meio do caminho, é como vender sua alma. Uma alma que ela não mostra para os outros e muito menos para si. Só sabe que é dona dela. Se apodera dela. Sufoca esta alma com seus devaneios.
Este quase ente, ela, é algo que está em desejo ardente. Mas que é completamente inverso que sou. Ela é a razão dos meus tormentos, por isso a expurgo de mim. O lado negro. Aquilo que não sou. Por isso, ela. A outra. Aquilo que a atormenta e a realização da minha felicidade. Tudo que ela me deu são as razões para jogar fora a minha própria razão. Negar e matar os sentimentos em razões simples. Mediocres. Viver para sempre num lugar estranho, não compatível. Isso só mostra que sou simples em meus atos, mas complexa em meus signifcados.
Ao falar dela, falo do meu desejo de interpretação. Da minha espera por um milagre quase místico. Assim como ela não terreno. Duas faces da mesma moeda. Meus tormentos e minhas dores são fontes do meu próprio prazer. Mas tudo isso é uma grande encenação de sentidos e prosa. Tudo isso porque fui tomada por este personagem que me desconcerta e me confunde. Compreendo mais do que nunca a afirma de freud: não somos senhores de nossa propria casa.
A fronteira descontinuada do ser e a continuidade do tempo. Não há espaço se o intento se concretizar. A demonstração se mostraria eficiente e sensual. O que ela pensa é que a soberania pessoal (dela para ela) é o pensamento em sua própria obscenidade.
Convivo com as minhas fantasias e poemas antes de entregá-los. É a minha atitude máxima de abnegação. Tenho paciencia de escutar os murmurios em meus ouvidos, as possibilidades de expressão. Mas espero para que seja eleita a melhor forma de provoacar. Afinal, tudo isso pode ser entendido como uma pequena piada, codificada, imprecisa e arriscada. Mas que não poderia ficar presa em mim. Tudo isso não passa de uma pequena abricolage de frases visualisadas em minhas andanças e detalhes. Nas sutilezas.
Os detalhes são importantes porque neles se mostram as delicadezas. Sutis e sofisticadamente eróticas. Afastam-se completamente de qualquer aspecto rudimentar, por isso, a transcendencia do corpo e da realidade. É no imaginário que tudo se aloja.
A violência que esperava estabelecer neste post é na tentativa de domar o que emana, o que instintivamente tenta se mostrar.
Não se esforce em tentar me entender. Tudo está no reino da palavra. Refugio meu. Palavras ora amigas (que possibilitam extravasar e concretizar o abstrato), ora traiçoeiras (não investidas do olhar, da minha tonalidade, são duras e escorrem por esta tela). As palavras ainda duras e impregnadas de certo pragmatismo rolam em um rio dificil que se forma em minha impetuosidade petulante.
Tudo se resume ao poder de palavra que se une ao poder de silêncio. Tudo para não forçar que as emoções se desprendam, e apenas na provocações façam uma consulta, uma pergunta que se fosse verbalizada se tornaria pesado, aniquilador e banal.
Me utilizo do poder demiúrgico das letras para que assim possa, provocar, mexer e dizer não dizendo tudo o que quero.

Esta sou eu, só. Solitariamente acompanhada de meus fantasmas. Sim, aqueles que arrastam correntes e mudam a coloração da mancha de sangue no chão da sala. Atormento-me porque há em mim uma vontade de ser e uma fragmentação do não ser. Começo a realizar a minha própria profecia. Não sei até que ponto tudo é um sexto sentido ou uma sentimentalidade em calor alvoroço. Ando pela chuva fria sem sentir a mesma em mim. O fato que é a noite está fria, meus pensamentos atormentados não me aquecem. Ao contrário. Me fazem tremer. O frio da realidade. A mínima chance de fuga sublimatória se torna uma dor do retorno. Estou num estado de doação total, com tudo tão a flor da pele, brilho insano no olhar, ouvido aguçado, papilas pulsantes. Já não me perco em meus sentidos, mas também, não tenho velas, leme... me entrego a correnteza que cada vez mais me leva para uma vida completamente anterior e nova. Anterior proque é algo pré qualquer coisa e nova porque está em fluxo de novidade. É quase a junção do arcaico com o novo. Mas será apenas por isso... só por isso que as vezes me questiono... não sei mais dizer, nem mesmo o que pensar de mim, quiçá do mundo. Nem sei mais o que dizer para mim mesma. Por isso neste apelo quase infantil, escrevo... escrevo... tento me livrar do peso deste mundo em meu peito. Parece que quando o assunto sou eu, aparece em mim um ser, um sujeito quase ente que em contato com outras pessoas quase desaparece, se anula, se reprime. Mas na solidão acompanhada pelos fantasmas de vidas passadas, presentes e futuras, aparece com força vigorosa o gongo trazido por eles: _ Bam..bam..bam... é chegada a hora...
Por mais que se saiba.... é sempre dor.
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©2007 '' Por Elke di Barros