"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A flor e o espinho

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu so errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu so errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha magoa
A minha dor e os meus olhos rasos d'aguaEu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Eu so errei quando juntei minh'alma a sua
O sol não pode viver perto da lua
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Que eu quero passar com a minha dor

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Menina e o Mar

Em historias que nos contam na cama há o mar que se apaixona por uma menina. Parece que a menina, nestas histórias, tem todo o domínio das coisas. A sedução da vida estridente da menina encantava/seduzia o mar. O amor se fazia presente neste momento.
A menina que se abria para o mundo, se abria para o mar. Fazendo descobertas ao deixar as ondas lhe invadirem, tocarem seu corpo e que encherem sua alma. Pode ficar a pergunta: por que o mar não se apaixona por uma lagoa? Ou por uma gaivota? Coisas do seu meio. Por que a menina?
Porque ele admirou a menina em sua entrega. Ele via a menina entregue ao vento. Dançando. Bailando. Movendo-se ao sabor do vento. A menina, no entanto, só entendia do vento. Entendia que aquele vento era o segredo das velas de seu barco.
A menina, certo dia, encarou o mar. Olhou para as suas profundezas. O mar lhe sorriu de volta. O vento enciumado percebia que a menina se encantava cada vez mais com o mar. Ela se encantava cada vez mais com o azul que continha todas as cores refletidas. Aquele olhar sem os olhos. Tudo aquilo que parecia ser contingente.
A imensidão se abriu. Parecia que em suas águas plácidas o mar lhe oferecia o que procurava. Ali ela podia extravasar toda a sua intensidade. E o mar parecia procurar aquela intensidade. Assim a menina começou a segredar ao mar seus pensamentos, seus afetos e poemas. Era só disso que ela entendia, que ela sentia e que ela queria. De nada ela entendia do amor, queria sentir a vida. Debruçada em seu barco, a menina sussurrava e cochichava seus segredos.
Até que um dia, a menina entrou no mar. E na volta o vento a chicoteou. Com o vento ela podia dançar, mas era levada, desarrumada. Não era tomada, sentia que podia quase voar, mas sempre com os pés no chão. A menina em sua necessidade eterna por suspensão, por delírio, por ser algo sem peso. Deseja ser algo apenas em movimento e sensação, entregou-se para o mar e sua imensidão.
Não sendo sereia, não sendo daquele meio, a menina precisava aprender a nadar. Se não morria afogada. Cada vez nadava mais e mais. Deixava o barco ancorado já sem velas, nem leme. Deixava lá. Não havia cais, nem certezas.
A cada braçada, porque no nadar era que ela se fortalecia. As águas escorriam por seu corpo, a acariciavam como um amante experiente o corpo a ser explorado da amada. E pelo contato com a água ela sentia o contato do seu corpo sendo dado. E a cada gotícula que restava e escorria era o prazer materializado. O delírio. Mas ela queria ir mais longe, ela queria o horizonte infinito.
Trilhar o mar entre braçadas e mergulhos. Mas ela é só uma menina. O corpo dela dita regras. As emoções afogam mais do que as próprias águas do mar. Logo se mostra que não importa quanto a menina bata as pernas e os braços tudo tende a afundar, a se findar.
Percebe como a história se inverte? Aquilo que antes era o encanto do mar, passa a ser a entrega da menina. Mergulho após mergulho sentia a sensação da suspensão. Tudo a volta da menina era o mar. Era o mar invadindo, ao redor, nela.
A menina nunca podia ficar muito tempo no mar. E cada vez que ela voltava para casa ficava o cheiro, a sensação e as lembranças do seu encontro com o mar. Ela ficava ansiando por voltar para o mar. Ao contrário do que o mar acreditava, a menina não tinha o menor domínio do amor. Amar o mar.
Cada vez mais ela ficava, o sol tentou avisar, as conchas fizeram desenhos de alerta e a areia se tornou movediça. Mas a menina em sua teimosia foi. Cada vez mais. Até que ela foi levada por ondas fortes, e nem um pouco cuidadosas de volta a terra. As ondas deixaram seu barco destruído a deriva. Ao chegar a praia, ela ficou a observar o mar. De longe.
Em terra firme, movediça e áspera ela olha o mar. Deseja. Faz fogueiras. Escreve seus poemas e os coloca em garrafas, lança ao mar. Espera que ele os leia. E assim ele entenda que não foi por falta de persistência, vontade e desejo.
Ao longe as palmeiras se movem. E ao lado da menina jaz o seu barco, sem mastro, sem velas e com seus remos quebrados ao redor. Em seu olhar, a menina tenta visualizar o horizonte, espera, aguarda.
Aposto contigo seja no evangelho ou nas leis que não sabes como terminará esta história. A vida da menina não passa de um dilúvio imaginário de quem escreve. Um amor como este não é para este plano. Para as leis confusas e sentimentos estranhos humanos. É para os livros, para o divino, o idealizado. É lá que estas coisas devem ficar. Em histórias que contamos na cama. Corpos mortais não comportam o pleno, o absoluto. Vivemos para morrer. Tudo se resume em nostalgias das besteiras simbolizadas que fizemos ontem.

Meus amigos e o sol nostalgico da manhã

Numa manhã de sol preguiçoso. A saudade das pessoas que amo aperta meu peito. A solidão na cidade grande me inquieta. Me tira o sono. Tudo anda frio. Vou para o interior. Para o quente. Não apenas para o interior do estado, mas vou para o interior de mim mesma. Enfrentar a tempestade que se faz em mim. É no abraço quente de pessoas que estão lá, funcionando como bussulas, barometros, rádios que reencontrarei meu prumo. Não nego que meu grande leme, está aqui. O abraço mais verdadeiro, a pessoa que mais sei que me ama de forma incondicional e que eu a amo assim. Mesmo na mesma cidade, sintimos falta uma da outra. Sua simples existência já me traz um pouco de paz. A pessoa que mais conhece a minha alma, e que mais conheço a sua. Conto com sua amizade para me nortear seja nos momentos mais felizes, assim como nos momentos mais tristes. É uma pessoa rara. Mas as pessoas que me esperam para onde vou, também são raras e preciosas. Demorei um pouco para ama-las. Hoje as amo sem fronteiras. A cada abraço de retorno meu, sinto aos poucos a minha conexão com algo maior. O amor não é apenas o romantico, entre dois amantes. Nestas pessoas que me refiro, em minhas bussulas, barometros, rádios... está o entendimento de que o barco sozinho não é nada. Por mais que eu seja uma a navegar, que a minha existencia seja solitária. Seria uma jangada e não um barco sem meus amigos.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A cidade

Na cidade, as luzes, o frio.
As grandes promessas de uma vida. Um projeto de vida. Um acontecimento.
A grande paciência ou impaciência pelo acaso. Coisas que acontecem sem a minha vontade. Sem o meu conssentimento.
Aprendo que nem tudo está sob meu controle. Lembro do retorno de saturno, tão próximo. Quero retomar a minha vida em minha mãos. Coisas, eu posso. Outras não. Algumas destas outras me pedem paciência, tenho que ter. Afinal, o projeto está de pé. Outras, no entanto, com dor tenho que admitir que não poderão acontecer. Ñão porque tenha deixado de acreditar, mas porque a cidade com o seu frenezi e a sua lógica táo estranha tem a engolido.
Olho a cidade pela janela do apartamento. Vejo esta cidade, que apesar de tudo ainda me encanta. Me encanta porque eu sabia que aqui haveria uma grande revolução. Achava que tudo se trataria de ranger meus limites... mas agora, vejo que é mais. Tenho que aprender a todo tempo me reinventar. Ver que me imaginário era pobre, e que ainda há muito mais para descobrir.
Tenho que aprender com o malogro das coisas, e ao mesmo tempo com o seu sucesso de terem existido. Desenvolver a minha capacidade de viver na selva de pedra. Sempre me disseram que me depararia com a parte fria, com as pessoas que não se importam.
Sim, as pessoas não se importam. Maltratam seu coração, acham que vc é endurecida como elas no asfalto e na poluição. Dizem para que nada seja entregue de bandeja. Mas de onde eu achei que nada viria é que eu tenho a grande surpresa. O grande encontro. O estado de doação e companheirismo. Há sim o mundo frenético, duro, voraz. Em que em minha visão quixotesca teria que lutar contra os grandes gigantes, que não passam de moinhos de vento.
Sim... lutei e luto contra os moinhos de vento, ainda com a minha ingenuidade interiorana. Mas também já sei quando o moinho de vento é um moinho de vento e não há nem a ilusão do gigante. Achei que havia encontrado o sonho.
Que ingenuidade.
Eu não encontrei o sonho, o sonho está dentro de mim. E é isso que eu não posso esquecer. Esta é a grande petulancia desta persona quixotesca que há em mim. A petulancia, não a covardia de me esconder atrás do outro. Estou com a cara e a coragem, enfrento sim, esta cidade e seus desafios.
E assim vou... com a cidade não se importando comigo. E nem eu com ela.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O mito do eterno retorno

No meu livro favorito, a insustentavel leveza do ser, Kundera abre o livro com o seguinte raciocínio....

"O eterno retorno é uma ideia misteriosa, e Nietzche, com essa idéia, colocou muitos filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato:
O mito do eterno retorno nos diz, por negação, que a vida que vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não tem mais sentido. Essa vida não deve ser considerada mais importante do que uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV que não alterou em nada a face do mundo, embora 300 mil negros tenham encontrado nela à morte através de indescridíveis suplícios. "

O que quero dizer com tudo isso.... é simples... é humano e é verdadeiro.
Nossa vida, a minha, a sua, a dele é um eterno retorno. Em que repetimos indefinidamente as mesmas questões. Por vezes com roupagens diferentes. Mas os erros, os acertos e, principalmente, o mesmo sofrimento são evocados. É como estar para sempre preso a uma teia trágica da existência humana.
Bem, petulante e teimosa que sou, me recuso terminantemente a esta teia. Mas nem por isso deixo de cometer os mesmos erros. As mesmas dores.
Me coloco agora, diante desta tela fria, num dia cinzento para dizer que serei dona da minha própria historia. E que estou farta.
Não falo isso de forma ingenua. Cada vez mais me dou conta de que determinadas coisas só existem na minha fantasia e no meu imaginário. Em alguns momentos, situações surreais e idealizadas parecem se concretizar neste cotidiano duro e repetitivo. Mas isso não passa de ilusão.
O paradoxo se instala, para quem deveria-se dizer não se diz sim, para quem deveria se dizer sim se diz não. É o contrasenso do peso e da leveza. Em que a leveza é insustentável, e que acaba por assim ser elimanada. Sim, eliminada por uma atitude covarde e não enfrentamento.
Tudo não passa de palavras e atos imaginários. O se supunha ser real, na verdade era a tentativa de fazer um sonho se encarnar. E encarnou, mas não deixou de ser um sonho.
Os sonhos são como brumas, a insustentável leveza, e com o agitar das mãos ou a revelação do caráter verdeiro se desfazem.
E não poderia ser diferente no eterno retorno.
Deposita-se no outro a crença, o sonho, a vontade de um mundo diferente. O eterno retorno do sonho encarnado da paixão.
Mas tudo é tão frágil. Se desfaz com o movimento realista das mãos e das atitudes viciadas. não há coragem de romper. Não há coragem de se ir além. Se esconde, refugia-se.
A futilidade e a racionalidade são os eternos destruidores. E eles são exatamente comportados por aquele que mais deseja mudar.
É a covadardia de não se peitar as situações. Por isso o paradoxo do sim e do não, da leveza e do peso. Tudo não passa de ilusão. A vida que se supunha abrir não deixa, deixava e deixará de ser uma grande ilusão.
Confesso que todo este discurso parece catastrófico e depressivo. Mas não é. é humano. tiro de dentro de mim esta dor, transporto para tela, a elaboro a fim de que isso não mais habite em mim. E o dia cinzento lá fora, lidarei com um bom casaco e chás quentes.
Expurgo de mim esta angustia. A vivi e a viverei até o fim. Afinal, o fim de um sonho é dramático, traumático e completamente brega. Mas o vivo assim. E quando sair pela porta, darei os 10 passos para outro lugar. Para outra história. Outra vida.
Novamente para outro eterno retorno, mas com a ilusão renovada de que será diferente. Pois, este primeiro ciclio vicioso estou rompendo no início. Decidida a não vive-lo por inteiro. Conhece o trailer do filme. Dispenso perder meu tempo em viver a mesma coisa.
Foi belo e intenso. E isso basta. Digo esta é como a carta de Tereza a Thomas, vou embora por não suportar a sua leveza. Ao contrário lógico, vou embora porque não suporto estar sem a minha leveza, sem a minha paz de espírito.
Se fui leve naquela cia, serei outras vezes, em outras cias. Mas não surporto e não mais suportarei o peso da covardia que se repete em meu eterno retorno.
E tenho dito.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Leite de Chico

Fã confessa que sou de Chico, não resisti e comprei o novo livro (Leite Derramado) como companheiro para o feriado. Ledo engano. O livro trata de uma narrativa não linear de uma vida. O homem, Eulálio Assumpção, centenário, está em estado vegetativo em algum hospital.
Ok, mérito para Chico em como administrar a narrativa. Mas, em uma segunda confissão, que ainda prefio Budapeste. E que se tudo der certo, assistirei hoje.
Depois da leitura do livro, num dos dias frios que fez em SP, fiquei pensando sobre o despedício de vida. Sobre como deixamos as coisas tomarem conta de nós e não ao contrário.
Vi no passar das páginas uma vida fragmentada, mas muito parecida com tantas outras que já tive contato. Mais um ponto para Chico.
A relação entre Eulálio e Maltilde (sua esposa), mostra exatamente como passamos desapercebidos pelas coisas. Amortecidos. Grandes dores ou grandes alegrias sempre tomam a tonalidade acinzentada da racionalidade.

"(...) gostaria que meu pai me acompanhasse mais um pouco, gostaria sobretudo que Matilde me sobrevivesse, e não o contrário. Não sei se existe destino, se alguém o fia, enrola, corta. Nos dedos de alguma fiandeira, provavelmente a linha da vida de Matilde seria de fibra melhor do que a minha, e mais extensa. Mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser a linha curta, e sim tortuosa. Depois que nos deixou, nem posso imaginar quantas aflições Maltide teve em sua existência. Sei que a minha se alongou além do suportável, como linha que se esgarça. Sem Matilde, eu andava por aí chorando alto, talvez como aqueles escravos libertos de que se fala. era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher." (p.56)

Selecionei outro pequeno trecho.

"Com o tempo aprendi que o ciume é um sentimento para proclamar de peito aberto, no mesmo instante de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura. Sabendo-se despresível, apresenta-se com nomes supostos, e como exemplo cito minha pobre avó, que conhecia seu ciúme como reumatismo." (P.62)
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©2007 '' Por Elke di Barros