"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Conversa de Meninas Pós Modernas e que usam msn

D says:

Oi, Lau! Que lindo seu blog Ameeeei

Simplesmente, Lauren says:

Como assim? Gostou?

D says:

acabei de abrir, pq nao conhecia...linda a foto, linda a diagramação... e isso que nem deu tempo de ler nada ainda

Simplesmente, Lauren says:

eu tenho escrito desde o inicio do ano. São os textos que geralmente ficavam aprisionados no meu diario

D says:

vc devia ter divulgado antes

Simplesmente, Lauren says:

Tudo tem o seu momento. Os textos devem e são escritos para alguém. Escrever por apenas escrever torna-se vazio. O remente faz com que os textos aconteçam. È o entre duas pessoas. È a minha forma de expressar aquilo que não é possivel de expressar de outra forma. Sempre procuro novas formas, nem sempre são bem sucedidas. Quem recebe o texto, nem sempre entende as entrelinhas. E quando entende, tem a chave da minha alma e do meu coração.

D says:

entendo... vc queria mantê-lo em segredo até amadurecer a idéia, não foi?

Simplesmente, Lauren says:

Escrevi coisas mto bonitas para ele. Não era questão de amadurecer, mas pq eu achava que eram ruins. Até que eu encontrei alguem, que gostou dos meus textos.

Descobri, acho que tardiamente, o que é paixão. È uma coisa a ser construída. Construída entre o estado delicado das coisas que quero e das que não quero. É uma projeçao. A paixão busca este estado de perfeição. E de certa forma, nossos pais servem para dar este referencial. Não digo com suas lições e etc. Mas com a propria existencia deles. De como atraves de suas vidas podemos avaliar as nossas. De como através dos passos que deram tentamos nos livrar ou aprisionar aquilo. Somos feitos em derivação oposta ou similar ao que vemos acontecer dentro de uma intimidade compartilhada.

D says:

ah, entendi...como se vc não quisesse seguir os mesmos "erros"?

Simplesmente, Lauren says:

Exato...achando que sempre vou viver as mesmas cosias.. o eterno retorno, não só de mim, mas deles.

D says:

Ainda presa a amores?

Simplesmente, Lauren says:

Presa a amores, que fazem teias. Não sei se serei algum dia a presa de uma aranha gigante. Mas com certeza não me prendo a magoas. Escrevi isso no blog. Mágoas são para pessoas especiais. Pessoas que conseguem arranhar o espelho de nossas almas, a ponto de fazer com que não possamos mais no ver da mesma forma. A magoa é algo que nos deforma em nossa percepção. Não dá para ter mágoa de tudo. Você se torna amarga. Se houver mágoa, seja da pessoa e não do momento, não da história.

Porque os momentos e as histórias são partes das suas escolhas. Partes de você. E não tem como vc viver se odiante ou tendo raiva de si. O que está feito, está feito. Não tem como mudar.

D says:

isso é de uma complexidade tremenda

Simplesmente, Lauren says:

Pq? Nao acho que seja complexo, mto pelo contrario. Parece exigente pq eh simples

D says:

eu acho complexo pq concordo com tudo isso mas na pratica, na hora da dor mesmo, a gente nao consegue ser tao racional

Simplesmente, Lauren says:

Nao é ser racional

D says:

a gente nao escolhe certas coisas..

Simplesmente, Lauren says:

Exatamente. Nao existe bom e mau. E sim escolhas. E existe uma responsabilidade mto grande nisso e q n deve ser jogada no outro. Vc n faz as coisas forçadas e nem dá para forçar o outro. O que decepciona é a expectativa. E esquecer que O outro nao sou eu”. Não tem como eu fazer o outro, por mais parecido que seja comigo, agir como eu. A frustração reside no fato de achar que o outro vai suprir completamente a suas expectativas

D says:

A frustração reside no fato de achar que o outro vai suprir completamente a suas expectativas

concordo totalmente

Simplesmente, Lauren says:

E nao é assim. O outro também tem as suas escolhas. E principalmente seus medos. Dificilmente levamos em conta a questão do medo, da insegurança. É a questão do livre arbítrio. Por que eu posso fazer o que eu quero e o outro nao? Encarar que o Outro é um ser tão livre quanto eu é a coisa mais dificil. Por isso, eu tenho me preocupado em distinguir o que é amor do que é paixão

D says:?

nem me fala... tenho pensado muito nisso

Simplesmente, Lauren says:

Eu cheguei a conclusão que o amor é mais calmo pq aceita as decisões do outro. Ao contrário da paixão que tudo quer, deseja, não existe o outro, mas sim apenas a realização do meu desejo

D says:

esses dias pensei em escrever para aquela coluna "Eu, Leitora" das revistas femininas. O titulo seria "Casei com a paixão da minha vida. E agora?"

Simplesmente, Lauren says:

Amar é saber abrir mao e continuar gostando. Pois é, paixão da sua vida e não amor. Eu posso dizer que eu havia encontrado o amor da minha vida. Eu tenho um traço dramático e sentimentalista que me leva mais fácil ao amor do que a paixão. Amor é doação e paixão é entrega. Sou racional demais para me entregar

E sentimental suficiente para me doar. Entende a diferença?

D says:

então vc é minha ídola

Simplesmente, Lauren says:

A paixao é dor. Amor é contingencia

Pq idola? Sou um bicho mto ruim. Sou rancorosa e descobri isso com o amor da minha vida. Me fazia sofrer vendo-o em uma angustia infinita e eu, alimentando dores, feridas que pareciam nunca cicatrizar. Ainda o amo. O que demonstra mais uma vez o meu carater contraditório e rancoroso. Mas sei que o amo porque dei meu espaço, é algo absolutamente sagrado. E acho que ele jamais entendeu isso. Dar meu tempo... afff... isso é o de menos... tenho 27 anos. Não estou nem no meio da minha vida... pelo menos cronologica

E também, já quase morri duas vezes

D says:

nossa

Simplesmente, Lauren says:

Sei que o tempo é algo relativo, mas o espaço nao. O espaço é uma dedicação que vc tem apenas com quem vc ama. Por isso é mais facil, para alguns, dar tempo para a paixão. E não o espaço para o amor

Vc arrumar o seu armário para a chegada de alguem, não é simples

Abre os teus armários, eu estou a te esperar

Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos

Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar

E fazer do teu sorriso um abrigo

Canta que é no canto que eu vou chegar

Canta o teu encanto que é pra me encantar

Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você

Que explique a minha paz

Tristeza nunca mais

D says:

eu adoro essa musica

Simplesmente, Lauren says:

Pois é. É disso que eu estou falando. Dessas pequenas sutilezas, essas pequenas sutililezas que nos conquistam, mas que escondem o peso. É na insustentável leveza do ser é que está o peso da existência. A sutileza mascara, engana... mas é incrivelmente adoravel. A ponto de não se ter palavras exatas para descreve-las. Não há palavras exatas para a paixão. O amor quer e deseja as repetições. Este é o momento que marca a transformação de uma paixão em amor. È de quando as sutilezas apresentadas ficam se repetindo, repetindo... e vc n enjoa nunca. Cada vez que acontece é algo surpreendemente encantador. A paixão, por sua vez, que sempre tudo novo de novo. Com toda esta história louca que aconteceu, voltei um passo a atras na minha existencia e assumo o carater solitário da minha alma. Sempre fui solitária com meus devaneios

D says:

ah, é esquisito falar por msn... Não tenho a capacidade que vc tem de escrever mil frases por minuto

Simplesmente, Lauren says:

como assim?

D says:

eu tenho muitas saudades de vc AO VIVO. Parece que nunca funcionamos à distância. Embora eu saiba que fui eu que me distanciei, também...

Simplesmente, Lauren says:

Pare de se culpar. Lembra do que disse acima. Todos nos temos parcela de culpa nas coisas

sao as escolhas. Continuo amando vc do mesmo jeito que amava quando nos viamos sempre.

D says:

culpa é meu segundo nome hshs é genético

Simplesmente, Lauren says:

vc continuar sendo uma grande amiga e que tem um lugar especial no meu coração. O importante eh que mesmo distante temos dialogos como este. Bonitos. Verdadeiros. Sentimentais.

D says:

com certeza. Precisamos continuar nossa conversa depois

Simplesmente, Lauren says:

Diz uma coisa. Vc se importa se eu der uma mexida no texto que produzimos e colocar no meu blog

D says:

que texto? essa conversa? Claro que não, pode por. Claro que não me importo. Até pq não escrevi quase nada, só você.

Simplesmente, Lauren says:

depois vc entra e ve. Deste jeito vc me deixa como uma falante histerica.. rs

Simplesmente, Lauren says:

BJOS

D says:

vc é uma literata. beijos

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A flor

Estava arrumando o armário. Estava a perguntar o por que de tudo aquilo. Tanta coisa. Tanta desorganização. "_ Nunca vou usar tudo ao mesmo tempo." Mas seria mesmo tudo tão desorganizado assim? Seria ela a desorganização em pessoa?
Embora as as blusas, as calças, as saias estivessem relativamente em seus lugares, havia um quê de caos. Até que... em uma das gavetas, estava ela... a flor.
Seu primeiro impulso foi sorrir. Em um breve instante havia sido transportada para uma outra época. De volta ao seu inexistente carro, num estacionamento que já não mais ocupava e com alguém que jamais lhe pertenceu.
Olha o quarto revolto e se dá conta de como o tempo passou. De como vivia agora outra vida. Quantas vida podemos viver dentro de uma mesma vida? - se perguntava silenciosamente. É como se já tivesse sido várias pessoas numa só. Várias histórias numa só. Vida.
A música não é mais a mesma, as fantasias já não são mais as mesmas e nem a cor do seu cabelo é mais a mesma. Só seu nome não mudou.
Muda,calada, ressentida em si mesma. Fechada. É assim que ela deve ser. A solidão é a sua bandeira. Não é melancólio, nem triste. Apenas uma escolha. É um segredo. O segredo de uma vida. Assim como a flor. Um segredo compartilhado com pessoas daquela época, que também não são mais as mesmas de agora.
Pensa em como algo que parecia ser mais algumas frases de impacto tornam-se em algo que se esboça como um conto. Quem conta um conto, aumenta um ponto. Apartir do momento que ela contar a história, ela deixa de ser dela e passa a ser de todos. Uma forma interessante de se perder aos poucos.
Conta que vestida de Rapunzel, com sua longa trança de rosas falsas com um falso príncipe. Viveu o que se diz um momento de mulher e não um momento de felicidade. Em um carro que em menos de dois anos deixaria de existir, assim como este encontro não realizado entre estas falsidades.
Ela passa a mão no cabelo. Doma o cabelo, amarra, como se amarrasse a si mesma. Lembra da música. "Não fique magoada" E não ficou. Não é para ficar. As mágoas são dedicadas à pessoas especiais, é como um cálice de cicuta. Um veneno doce que mata o coração e amarga a alma. A mágoa não é e nem deve ser dedicada a momentos. Estes pequenos fotogramas que nos servem para alimentar a alma e dar um certo consolo de que a existência não é tão inútil assim.
Voltando a cena em questão. Em nada havia de romantismo. Era apenas o falso príncipe falando da sua banda favorita. Olhando para trás não há mágica. Mesmo as entradas e saídas dele em sua vida. Ambiguidades a parte. Um dia que ele saiu, ela resolveu fechar a porta. De vez. Como sempre faz. Fecha a porta, tranca e não olha mais para ela. Pode-se imaginar que a sala da casa dela seja cheia de portas fechadas. Cada uma com o seu formato, cor e material específico. Algumas portas, são um pouco mais frágeis. Talvez, quem saiu por ela pudesse forçar um pouco a entrada e entraria. Mas ela sabe que as pessoas não são bumerangue, não se joga para longe, esperando que volte.
Mas de tudo que ela conta ficou a banda, a música, a história e a flor.
Não havia nada banal, vulgar ou carnal. Mas uma afinidade particular. Não só pelo gosto da banda que tocava no K7 desgastado, mas nas noites a fio que ficavam juntos. Apenas juntos. Aproveitando um da cia do outro, da presença, do abraço.
O olhar dela se perde ao longe. Ela sabe que aproveitou o máximo e usou tudo ao máximo. Tudo era rápido e foi. Fulgaz em relação a ele. E incerto por ela. A ela restou o que entenderia só mais tarde, arrumando um armário.
A fronteira é fina entre o conto de fadas e a novela mexicana piegas. Todos os elementos estão em ambas as coisas. O que dá o tom é a forma de contar. A forma com que se encontravam cada vez.
Ela se pergunta se para ele era da mesma forma. Pergunta impossível de resposta. Haviam outras pessoas que entravam e saiam de sua vida, quanto ele sumia como o Holdini. Com o falso príncipe ela aprendeu a ser mais ludica, a dar espaço para quem e não só que ela quisesse que entrasse em sua vida, o que era estar junto por estar junto. Aprendeu a dormir quando o corpo não suportasse mais. Acordar embrulhada num abraço sincero. Eram as melhores coisas de se estar com alguém.
A graça da vida não estava na realidade, naquela que explicamos com senso comum, facilmente. metas fazem parte, mas não são nada sem o sonho. Os planos não podem se concretizar se não tiver um pouco de insanidade, um pouco de esforço para ir além.
O gosto do café e do cigarro na madrugada. Lembra-se em seguida de como foi inexplicável e ainda é o ditado popular: dois bicudos não se beijam. Por que duas pessoas de natureza parecida e encaixada não podem dar certo? Por que parece sempre faltar alguma coisa?
Talvez uma resposta para esta pergunta se esboça. É porque este outro deixa de ser o não eu e passa a corresponder a um eu, externo. Daí fica dificil aceitar atitudes que não seriam parecidas ou as mesmas que a sua.
A nossa heroína não se desgasta perguntando além disso, pois nunca precisou de mais fantasmas em sua cabeça, além dos que já possui. Ela própria já é uma casa mal assombrada, mas que seja pelo menos de um parque de diversão.
Aprendeu o que havia para se aprender. Se guardou desde o dia que se fechou a porta. Agora, espera de frente com uma porta aberta uma figura tomar conta de seu olhar, do centro do espelho e do lado vazio da sua cama. E tudo ficará para trás. Assim como a flor que ela encontrou perdida no meio de sua bagunça. A flor que deu de volta a ela a mensagem que precisava neste momento.
Ela pega a flor e se dá conta que a vida é um grande ensaio. Coisas dão certo, outra também. Mesmo no ensaio de uma relação. Num esboço de um amor. No início de uma paixão. A vida dá e a vida toma. Tudo se torna apenas uma questão de como viver estas coisas enquanto estão acontecendo. Depois, tudo vira caracteres. Não importa a ela saber se foi amada, porque também não soube amar. E se pergunta se algum dia saberá amar.
Agora o espaço do armário está arrumado. Espera a chegada de roupas novas e das malas. Como seu coração desorganizado tem um espaço para a chegada do principe de verdade.

2 com 2 são 5

O rio não precisa do mar. Mas o mar, mesmo em sua imensidão precisa do rio. Por que afinal o rio tem que correr para o mar? Descarta-se a idéia de que o rio é apenas mais um?
O rio quando dessagua no mar quase desaparece. O rio pode chorar. Pode chorar desanguando no mar ou num deserto. De qualquer forma suas águas são inuteis.
Talvez o foco esteja demais onde o rio acaba, não por onde ele passa. O rio ainda existe em seu percurso.
Pensando no encontro do rio com o mar num determinado ponto vê-se do que estou a escrever. As aguas do mar e do rio não se misturam, mas provocam um fenomeno. Um evento único. Agua salgada e agua doce percorrem lado a lado, cada um o seu destino. E isso não quer dizer que se atravessem. Seguem em paralelo. E isso também não quer dizer que seja na mesma direção. O fato é que não se tornam uma coisa só. Criam uma terceira. Algo que só é possivel observar naquele momento e naquele ponto específico. É o espaço e tempo da vida.
Para se construir usinas de força tem que se canalisar o rio, represá-lo. Colocar a força que antes ia para o mar, para outro lugar. As consequencias são terras ferteis de baixo d´água, submerso. Metros e metros da superfície. Elimina-se o que antes tinha de selvagem, de intocado ou até mesmo construções já edificadas. Até isso é destruição em prol de uma ação racional e de mais pura necessidade. O desejo não cabe mais nestas relações de curso e percurso do rio. É a vontade alheia.
Sigo escrevendo em nome do rio porque é o que me resta. O rio que antes transbordava espontaneamente por si mesmo, agora se recolhe. É época de seca. Em seu leito suas forças se esvaem. Assim como as palavras que surgem tão lentamente esta madrugada. Não sou capaz de ir muito mais além do que está aqui. Assim como o rio que perde a sua força para chegar até o mar. Tudo é igual. Tudo se repete. O longe e o perto, alegrias e tristezas. A mesma lua cheia.
Isso pode parecer perturbador, triste, depressivo. O pensamento parece se deslocar por vários pontos. Assim que evoco uma coisa, uma metafora, ela me devolve a realidade. Há um acúmulo de vontade que me sinto como o rio represado, contida.
Na verdade, nos ultimos dias tenho sido tomada de uma dúvida. Não sei se serei capaz de terminar esta história. Porque tudo é incompatível com a linguagem. Na medida que a história resiste as palavras e a sua ordem, é a medida exata de quão perto cheguei de inscrever a metáfora no coração. E quando chega o momento de inscreve-la, a coisa mais importante (supondo que ainda exista), talvez não seja mais capaz.
O tempo do rio acontece. Como já foi dito, o seu leito foi mudado. E só agora percebo o quanto. O ato de escrever é como manter esta ferida aberta para cicatrizar. Quem sabe a dor não saia catarticamente pela pressão dos meus dedos no teclado. E assim o rio poderá desaguar suas águas em turbinas para produzir energias.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O inventor da solidão


Lentamente começo a compreender o absurdoa da tarefa que me propus. tenho a sensação de tentar ir a algum lugar, como se soubesse o que queria dizer, mas quando mais avanço maior a certeza de que o caminho para chegar ao objetivo não existe. Preciso inventar a estrada a cada passo, e isso significa que nunca tenho certeza de onde estou. Uma sensação de mover-me em círuclos, de refazer eternamente o mesmo caminho, de seguir em várias direções ao mesmo tempo. E, mesmo que eu faça algum progresso, não estou de modo algum convencido de que chegarei aonde penso que estou indo. Só porque você vaga pelo deserto não quer dizer que exista a terra prometida.

{Paul Auster}

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A ausência

Se há ausência do outro; é o outro que parte, sou eu que fico. O outro vive em estado de partida, de viagem; ele é por vocação, migrador, quanto a mim, que amo, por vocação inversa, sedentário, imóvel, disponivel, à espera, ficando no lugar. [....] A ausência amorosa só tem um sentido, e só pode ser dita a partir de quem fica - e não de quam parte: EU, sempre presente, só se constitui diante de VOCÊ, sempre ausente. Dizer a ausência é, de início, estabelecer que o sujeito e o outro não podem trocar de lugar. [...] Às vezes consigo suportar bem a ausência. Sou então "normal". Me igualo à manera pela qual "todo mundo" suporta a partida de um "ente querido", obedeço com obediência com competência à educação pela qual me ensinaram desde cedo a me separar. Ajo como um sujeito destemido; sei me alimentar; ENQUANTO ESPERO..."

{Fragmentos de um discurso amoroso - Roland Barthes}


Poema das Mãos - Monólogo por Bibi Ferreira

domingo, 5 de julho de 2009

A pipa e o menino

Pipa. Linha. Menino.
A pipa na mão do menino voa. Brinca. Dança no céu azul.
O menino corre levando a pipa. A pipa que dança no céu azul.
A linha esticada nas mãos do menino dita o movimento da pipa.
No céu azul a pipa contrasta com a luz do sol. Dança, tremita.
Em suas mãos a pipa vai e volta, volta e vem.
No alto, o menino para a pipa em suas cores. O menino dá linha, a pipa sobe... tão pequena na imensidão azul e branca. Um ponto no céu, foi para onde não se pode distinguir suas cores e forma. A pipa parece mais um complemento às nuvens tão brancas.
A linha esticada é puxada. A pipa quase cai. A imrpessão de queda e a proximidade com o chão faz com que a pipa se desconcerte. Mas o menino habilidoso em sua arte, devolve aos poucos a pipa ao céu. O menino consegue manipular a pipa, a desvia aos poucos dos ventos pouco favoráveis.
O vento causa turbulência. A linha firme nas mãos do menino a leve além. A leva sem medo. Obstinado. Mas a pipa está em contradição, se agita. Às vezes consegue fazer os movimentos comandados pelo menino, ora se se abala com o vento.
O céu não parece mais um lugar seguro. Não aquele pedaço de céu. O menino parece não perceber a fragilidade da pipa. Ou parece terr um prazer sádico em quase destruí-la. Em voos cada vez mais ousados, o menino ordena a pipa, força. Mas e a pipa? E a sua vontade? E a sua vontade?
A pipa tenta mostrar que não está conseguindo. Seus limites estão postos. Os voos tem seu declínio. A pipa manca em seu voo. A linha amarrada começa a esgarçar. E menino não percebe.
O menino tão entretido com a brincadeiram, em sua gana, com o desafio provocado pela pipa. Ri. Corre. E o fio, por sua vez, se esgarçando. O vento recomeça.
O que aconteceria com a pipa?
A pipa ao se soltar do fio, alcaçará seu voo solitário. Em algum momento poderá cair. A dor do fio se rompendo seria maior do que o encontro com o chão? Creio que uma coisa está implicada com a outra. Mas será a sua queda sem o menino. Sem o fio, ela não deixará de ser uma pipa colorida no céu. Sem o fio ela é perdida e achada.
Ao menino restará o fio. Mas ele também não deixará de ser menino e o fio poderá ser amarrado a outra pipa.
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©2007 '' Por Elke di Barros