"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Triângulos, Retas e Pontos (o melhor conto que eu já escrevi)

Todos temos vontades e desejos. Vários sonhos, impulsos. Devir de ser uma coisa q tem a possibilidade de ser várias. Somos como massa de modelar, a cada escolha nos moldamos. Estas escolhas, por mais que pareçam erradas ou certas, são escolhas que não voltam para um cara a cara, ou teste para saber qual seria a melhor. Uma segunda chance. Ou movidos pelo orgulho deixamos de ver, ou começamos a ver coisa que antes eram invisíveis a nosso olhar.
Vaidade seria o nome deste orgulho. Vaidade não é apenas ficar na frente de um espelho se endeusando, mas criar uma crista, erguer o pescoço e se fazer de superior. Um cupido, uma Jezebel, uma Julieta, uma Isolda e um Socrátes. Estes cinco personagens estão intimamente ligados embora não como conhecemos. O cupido trata-se de uma ponte de ligação tentando semear o amor. Até mesmo entre personagens tão contraditórios, como os que estão expostos aqui.
Imagine como seria o amor de uma Jezebel e um Socrátes ou um Sócrates com uma Julieta. Estranho, esquisito, surrealista. Mas extremamente verdadeiro. Um Socrátes que se vestiu de Ulisses para uma Penelope, que por sua vez se vestiu de Rapunzel, ficando no alto de sua torre esperando o príncipe chegar. Uma Julieta que espera o seu Romeu e encontra um Sócrates.
A vida é assim. Triângulos que não se fecham, retas que não se completam. E o cupido? Por onde anda??? Aqui. Perto de você, é só você fechar os olhos que você sentirá o seu cupido. Ele está dentro de você. Mas neste caso o cupido saiu de dentro de cada um se personificando num jogo de projeções em uma Quinta pessoa.
Os cupidos são seres capazes de ver as coisas, mas com uma única vantagem em cima dos outros anjos. Ele pode interferir na vida alheia, com o poder de suas flechas. Que algumas vezes tem alvo certo e correto, algumas vezes não é tão correto, provocando rios de lagrimas. Às vezes quando um cupido não usa apenas suas flechas, as situações mudam complemente, gerando outras situações mais complexas.
Imagine um anjo profetizando a Sócrates o dia em que beberia seu doce cálice de cicuta. Mas para isso ele teria que se vestir de Ulisses para conquistar sua Penelope e assim concretizar a profecia. E isto acontece. Ele toma sua Penelope, e como tal entende que Ulisses deve partir. Eis q o cupido interfere novamente, fazendo com que o Ulisses retorne a Ítaca, mas sua Penelope já não existe, pois ela se tornara um personagem de uma historia qualquer.Isto faz com que Ulisses já deixe de existir e volte a ser Socrátes.
Um andarilho a procura de algo ou de alguém como supunha o cupido. Por muitos caminhos Sócrates andou, muitas pessoas ele conheceu em curto espaço de tempo. Mas uma pessoa que mais parecia um cometa riscando o céu, parou. Como Tristão quando encontra a sua Isolda, uma andarilha como ele, que andava pela estrada, um pouco perdida como ele.
Conheceram-se, se mudaram mutuamente. Algo mágico aconteceu, o filtro do amor foi bebido. Mas como andarilhos, tinham que continuar a andar, como aos pássaros que não conseguem viver sem rasgar o céu voando. Eles se separaram com a promessa de um dia se encontrarem e talvez andarem juntos. Por isso nosso Tristão deixa sua Isolda ir ao encontro de seu prometido.
Sócrates não se desvincula totalmente do seu papel de Tristão. Eis que surge o cupido novamente para lhe trazer uma Julieta. Uma pessoa com sede de amar, com o coração puro e intempestivo. Ela o envolve como uma golfada de ar, algo q desvia o caminho, que perturba. A intensidade das emoções de Julieta faz com que nosso Sócrates se confunda, se envolva, mas por pouco tempo.
A razão e a emoção não são compatíveis. Julieta vê em Sócrates seu Romeu, se encontra, fantasia. Entrega-se a isso. O romantismo latente de todo seu ser é vão, pois Sócrates ainda tem Isolda em seus pensamentos. Sente-se como um Lancelote, divido entre o amor e o que é certo.
Sente que não está sendo honrado, desaparece. Então sua Julieta chora dia e noite por seu pseudo Romeu. Pode vir o Príncipe Páris montado em seu corcel negro, mas ela não o quer. Apenas pensa em seu novo amor.
O cupido apenas acompanha o reaparecimento de Jezebel. Julieta vem em desespero lhe pedir auxílio, como Psique pede ajuda a Afrodite para ter Eros de volta. Mas diferente de Afrodite, Jezebel não dá nenhuma prova ou manda Julieta ao inferno com uma armadilha.
Julieta se encanta com o poder, com a beleza com todos os encantos que a princesa possui, mas sofre pelo julgamento feroz de Jezebel. Ela é dura, fria, julga sem piedade.
Julieta está perdida, como Psique acorrentada esperando que a morte venha. Seu príncipe Paris, nem mais príncipe é, mais parece um sapo. Seu espirito se agita, se contorce. Enquanto, Jezebel, mantém-se dura e fria, mas com um calor abrasador dentro de si mesma por sentir que perdeu para Julieta, resolve retomar Sócrates para se satisfazer.
Veste-se com seus trajes mais bonitos, organiza sua corte e vai embusca de Sócrates. Acontece algo interessante neste encontro. Dois se olham, olhos nos olhos, não há como fugir, um confronto direto. Uma loucura. Um brilho no olhar difícil de explicar. Mas muitas coisas acontecem nesta explosão.
Uma união no espaço. Os olhos brincam de se esconder e se achar, quando se revelam não se desgrudam, é magnético, é forte, é fascinante. Estão se reconhecendo. Eis que as mãos se procuram ávidas pelo espaço, pelo momento.
Jezebel não admite enfraquecer, seu orgulho está muito ferido, pois como pode ele a esquecer, se entregar a outra se não ela. E como sempre: dissimula a situação. Faz acontecer da maneira dela. Os toques se intensificam, se necessitam, aumentam, aumentam. Até que não dá mais para agüentar, o silencio melodioso deve ser quebrado aos sons das respirações ofegantes, algo cresce, algo se esquenta. As bocas se entreabrem se aproximam é selar uma comunhão silenciosa, um pacto.
O espaço se diminui e dois mundos se juntam. A ligação foi feita, como Jezebel planejava. Como chegou, Jezebel parte, deixando o pensador sozinho. Ela chega, transtorna e saí. Sócrates não entende, pede auxílio ao anjo. Mas este nada pode fazer, não pode interferir mais. É tarde demais, o grande estrago já foi feito. Fatalismo se apodera do anjo, eis uma grande semelhança com os humanos. Deixa passar.
Pois a impossível chance estava para acontecer. As coincidências estavam acontecendo. Tudo estava caminhando para aquilo que mais desejava. Saltaria para o acostamento com medo de que aquela luz no final da estrada escura fosse um caminhão, ou enfrentaria a colisão o impacto?
Por mais perguntas que se faça, estamos assim, anjos, humanos, santos, andando pela noite escura sob um asfalto gelado, apenas com os grilos e as estrelas como companhia. Esperando com um frio na barriga, com um suor frio, pelo momento da decisão.
Julieta ansiosa por um novo encontro, mas este não acontece. Ela fica no porto esperando o barco chegar. Mas ele apenas passa ao longe. Sócrates se decide a ser novamente Tristão, mas já havia passado muito tempo e Isolda já estava casada.
Sócrates deixa para trás sua fantasia, seu personagem. Pelo menos tenta, mas tudo mudou muito, está tudo diferente. Já não consegue mais ser Sócrates, mas uma mistura de todos os homens que foi, amando todas as mulheres que amou.
Mas o tempo está contado, os santos choram, os anjos se calam, Deus abençoa. Sócrates entendeu tarde demais o sentido da vida, mas consegui entendê-lo nos últimos momentos de vida. Pois esta descoberta lhe decretou a morte.
Não havia mais como ele viver. Sabia demais, as pessoas não entenderiam, não estariam prontas para a verdade. A cicuta é servida. Sócrates a bebe com gosto. O prazer de finalmente estar livre.
Julieta surge no momento em que Sócrates fecha os olhos. Ela se desespera. Ela sabia o que aconteceria, mas não teve coragem de enfrentar. E quando enfrentou, já não havia mais tempo. Sua bondade foi sua fortaleza.
Convocou cada uma de suas rivais. Cada uma das mulheres que Sócrates amou, seu último gesto de amor, uma desvinculação. Ao mesmo tempo em que sentia que algo havia sido lhe tirado, sentiu que algo retornava para si. Sócrates lhe deixou seu coração, ela o guardou. Sentiu que ele havia cuidado muito bem, mas que não era seu, por mais que tenha lhe sido fiel. Aquele coração não era seu.
No enterro Julieta se fez forte, como nenhuma Deusa do Olimpo jamais seria. Enquanto Jezebel dedicou a morte de Sócrates a sua pessoa. A vaidade lhe cegara como também lhe devolvera um castigo a altura.
O único homem que lhe tomou, que lhe desviou por alguns momentos do seu caminho, já não existia. O único a entender a sua natureza. Sendo assim sentiu no completo direito de ter o coração apenas para si.
Julieta lutou bravamente. Chegaram a se esquecer do que se tratava para estarem brigando. De coração passou a ser um objeto a ser conquistado. Um briga, uma guerra sob o corpo de Sócrates.
O cupido infere. Tira o coração das duas. E o leva para aquela que Sócrates realmente amou. Não aquela que lhe foi mais fiel ou mais desafiadora. Mas para aquela que simplesmente partiu seu coração.
O cupido atravessou, mares, terras, vilas, cidades, países. Até que encontrou Isolda, parada olhando o céu de sua janela, enquanto tricotava um sapatinho de bebê. O cupido entra delicadamente como o raio de sol e lhe entrega a caixa q tem o coração.
Isolda chora. Não por si, nem por Sócrates. Mas pelo mundo. Pelas pessoas que deixam de ser felizes como ela por preencherem suas vidas com areias e não com plantas e vida, apenas preenche o ser e não pela vida. Ambição, inveja, vaidade que cegam, impedindo que os sentimentos se aflorem, que as almas se encontrem, não os disfarces produzidos. Tantas coisas que deixam de serem vividas.
As três mulheres, os três ícones de cada mulher. Cada mulher tem um pouco das três dentro de si. Todas chorando pela perda de seu amor. Por que neste instante não havia dobrado a esquina uma pessoa, mas três. Mais um mundo deixou de existir. Mais uma história se finda. Pode ser fictícia ou não, mas este mundo agora se finda... é inevitável.

domingo, 12 de julho de 2009

Num dia frio, um bom lugar para ler um livro, o pensamento lá em você

"Ler um poema é como mergulhar nele em pensamento. O poema é objeto e pensamento ao mesmo tempo. E, ao contrário do que ocorre nos não poemas, no poema não é possível separar o objeto do pensamento ou do sujeito do pensamento. Aquilo que pensa no poema é também a sua materialidade linguística: não apenas os seus significados convencionais, mas os seus significantes: e os significados não se separam, no poema, dos significantes. Nada, nele, se separa de nada; nada se parte; nada parte."

(Enquanto não lemos poesia, não partimos - Antônio Cícero)

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