"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sábado, 25 de julho de 2009

Chicobuarquiano, infelizmente

"morreu na contramão atrapalhando o trânsito"
Nunca uma frase foi tao verdadeira. Justamente num dia em que pensava sobre o carater da vida. Estava eu, com a minha vidinha e meus dramas egoistas, a pensar sobre o que se faz da vida que se tem. E para agravar a coisa, estava indo ao palacio da futilidade: o shopping.
Vi um homem. Só sei disso. Um homem. Com alma, ou seja lá, que nome queira dar para isso. Tentar atravessar a rua, antes do sinal ficar verde. Não conseguiu. Os carros, como estouro de manada zuniam seus aceleradores. Foi assim... bum.... primeiro achei que dois carros tinham passado mto rente, um ao outro. Mas não. Eu vi algo a mais sair do carro ou pular o carro. Era um homem.
Me escondi, vergonhosamente, atras da banca de jornal. Não suportava o espetáculo. As pessoas como matilhas, se aglomeraram na calçada. Pareciam sedentos da desgraça alheia. Daquele homem que naquele momento era o centro das atenções, na calçada de indigentes. Aquele que era para ser mais um transeunte na cidade que ferve de pessoas, tinha olhares fixados nele.
Assim que abriu o sinal para os pedetres. Corri. Sem olhar para lado nenhum. Fugia. Fugia do carater mais humano das coisas... morte e crueldade. Do outro lado da calçada adolescente irritantemente emos, riam. Ao entrar no shopping pessoas andavam. E eu só pensava no corpo extendido no chão. Me deu vontade de gritar. Dizer: _ Olha tem um homem morto lá fora.
Mas de nada isso adiantaria. Nada.
Outra vez, o carater solitário da existência. Será q alguem chora por aquele homem hj...
Talvez a existencia dele jamais teria sido percebida por mim, jamais faria sentido. Mas a sua morte teve um sentido, e um impacto. Algo se transformou em mim. Algo que para sempre ficará. Mesmo que algum dia eu esqueça, porque sou humana, a cena que vi hoje.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

uma história real

A menina brincava interessada com a caixa. Com as pernas rechunchudas abertas, entre elas a caixa. Abria a tampa com um brilho mailicioso no olhar. As folhas coloridas pareciam ter um sentido interessante.
Grita para a tia: _ Me vê uma caneta!
A tia da cozinha em voz de surpresa: _ Para que queres uma caneta....
A tia pára de lavar a louça e aguarda uma resposta. A menina se cala, em silêncio pensa numa resposta. Uma resposta que não faça a tia brigar com ela. Dilema.
_ Lorena! Para que queres a caneta...-a tia pergunta ainda junto ao balcão da cozinha.
A menina apertta a caixa entre as pernas, fecha os olhos e diz: _ Tia tem folhas que precisam de letras. Só vou colocar letras no que não tem.
A tia pega o guardanapo de pano, enxuga as mãos, já prevendo o que está a acontecer na sala. E o presumido inevitável está lá.
_ Lorena!!! não podes mexer nesta caixa!!! Ela não é minha nem sua... ela tem.. um segredo...
_ Um segredo!!!! - e mais curiosa ficou a menina - tia... vamos ver o segredo, eu e você.
_ Lorena - explica a tia - o segredo assim como a caixa, não é nem meu, nem seu. É de Clara. Ela mora aqui. Ela ganhou de alguém...
_ É um namorado, tia...
A tia balança a cabeça, pensa na história da amiga e diz: _ É.... de alguem que foi namorado dela. E ele mandou a caixa com o segredo, para que abram juntos. O segredo é dos dois.
A menina olhou para a tia sem entender ao certo. Pareciam faltar pedaços à história.
O pai da menina se aproxima. E a menina com seus olhos perguntadores diz ao pai: _ Pai, nesta caixa tem um segredo. Mas a tia disse que só pode ser aberto por duas pessoas. Vamos abrir...
O pai animado quer entrar na brincadeira. E diz: _ Vamos - já avançando para a caixa, mas seu olhar cruza com o da tia, e compreende. Não é para abrir a caixa.
O pai diz a menina em muxoxo: _Quem sabe outro dia...
A tia complementa: _ É, Lorena, quem sabe qdo a Clara chegar... Você pergunta a ela, isso se ela já souber do segredo.
A menina olha para a caixa, para sua tampa colorida e os papeis coloridos esperando por letras.
Entrega para a tia em resistência e diz: _ tá bom... vamos esperar a Clara.
A menina vai embora sem encontrar Clara.
Clara chega e ruma direto para a cozinha. A tia estava lá e logo lhe conta o passado com a sobrinha. Clara ri. Pensa no que os olhos de menina achariam dos papéis lá dentro. Os olhos de menina que nada entendem ainda sobre o amor. Os olhos de menina que ainda tiveram suas primeiras lágrimas derramadas por amor. Os olhos de menina que ainda não teve seu primeiro encanto.
O momento do encontro entre Clara e a menina não tardaria. Logo que a menina entra no apartamento, pergunta para a tia: _ Onde está a Clara... Ela está em casa....
Clara fala do quarto: _ A descobridora de segredos chegou...
A menina aparece. Acanhada. Na porta do quarto.
Clara retoma a pergunta em tom de brincadeira: _ é tu que sabes dos meus segredos....
A menina responde, sem titubear, rapida e direta: _ Só o da caixinha... - e aponta para a mesma dentro do quarto.
Clara sorri. A menina a encara com toda a sua meninice. Mas as duas se comunicam, afinal, eram duas mulheres. Estava no olhar.
A menina podia não entender exatamente, mas sabia do que se tratava.
A menina pergunta: _ Ele gosta de ti...
Clara fica admirada com a pergunta.
A menina retoma e insiste: _ Ele gosta de ti... ele te deu a caixa.
Clara sente as faces ruborizarem, Pensa na carta recebida. E diz secamente e embarassada: _ Gosta.
A menina pisca e diz: _ não sei ler. Não li o que tinha lá. Mas é algo que só pode ser lido por você e ele ... vcs sabem ler oque está lá, ne!
Clara olha para os olhos vivos da menina e pensa:"as coisas são tão simples que até uma menina de pouca idade vê." Pára se se repreende: _ Tola sou eu. Sábia é a menina que ainda não tem os olhos sob os véus da mágoa, malicia e "esperteza".
A menina não precisava ler. Não são as palavras e caracteres, porque ela saber do coração em seu estado total e absoluto.

domingo, 19 de julho de 2009

Eu vou te Contar

Eu vou te contar que você não me conhece
E eu tenho que gritar isso
Porque você está surdo e não me ouve
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei e não amei
E não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome e eu tenho
Você é rosto na multidão
E eu sou o centro das atenções
Mas há mentira na aparência do que eu sou
E há mentira na aparência do que você é
Porque eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Busca chegar no limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância
Ou do reconhecimento dela
Entre eu e você
Existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada
Me denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com a as quais você me veste.

[Fauzi Arap]

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©2007 '' Por Elke di Barros