"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As vezes eles voltam.....

Havia tempo que pensava nisso: retornar.
Tentei eu como uma espécie de Robson Cruoé deixar a ilha. Mas não se pode deixar a Ilha, ela está dentro. Grudada. Simbiótica.
Mesmo me aventurando em outros lugares, em outros planos, percebi que de nada adiantaria. É como o sonho do homem ridículo. Tenta-se uma morte, mas o que acontece é um delírio, um descolamento em que se pode achar um mundo diferente. Mas que não deixa de ser uma cópia, um simulacro da matriz. Tal e qual também a cópia dos problemas.
Tenho uma séria questão "admirável mundo novo" X "1984"... e que, sinceramente, não acho que sejam TÃO opostos assim. Bem, mas a questão é que me sufoca o olhar de quem não quero. A vigia silenciosa de quem não quero que saiba de mim ou de minha vida. Ou seja, abomino qualquer polícia do pensamento (1984). E tão muito me creio formatada como alfa ou beta...
Odeio padrões. Odeio restrições. Detesto convenções. Mas adoro a sensibilidade e o aconchego humano. Meus paradoxos...
E um deles vem com a visibilidade. Gosto de ser notada, mas jamais o palhaçado no picadeiro. O olhar do Big Brother (do livro e não o programa da TV para os menos avisados) já não me incomoda mais. A minha visibilidade não é minha, mas das minhas ficções. São as minhas produções. Minhas combinações de caracteres. E que as vezes reverberam com outras ficções.
Embora não haja comentários para mim, escritas. Sei e espero que tenham comentários internos. Comunicações. E é este todo meu desejo.
Eu como uma ilha, entre dois estados, lido com as ambiguidades e paradoxos da vida. Da minha vida. Das coisas como vejo, penso e sinto. Agora, o que acontece comigo, como sujeito e não como ser... bem, esta é sempre a margem do mistério que o Outro tem que manter.

"Estas explicações requerem tanta imaginação quanto a epidemia ou o naufragio. [....] Mas devo me convencer: não preciso fugir. Viver com as imagens é uma felicidade. Caso cheguem os perseguidores, esquecerão de mim diante do prodígio dessa gente inacessível. Ficarei." (trecho extraído de "A invenção de Morel" - Adolfo Bioy Casares)

Portanto o recado é o seguinte: voltei. Tomo o meu lugar. Minha demarcação.
Não morri e nem matei nada. Também pq na solidão não se pode morrer, apenas se desaparece. E num passe de mágica estou aqui, ali... em todos os lugares.
E sempre bem-vindos aqueles que chegaram e aos que retornam assim como eu.

Um comentário:

J Silveira disse...

Volta a mar

Uma onda, dessas do mar
Um broto do ar violento deste pó lacrimoso


Uma gota desta filha solar
Que bebe dos lábios do raio a luz


Esta onda desigual tão semelhante
A si mesma, nunca sequer fez indagar
Qual que na aresta do mar

Invade a onda ou será mar no ar?
De onde nasce esta doce?
E por que em tanto querer beijar
Esbarra na praia
Deixa a poça
e volta, como o pássaro canta
Aonde nunca esteve e nunca sairá

Volta mar

Por Luiz Marcos Ferreira Júnior

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