"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CAPITULO 7

Toco tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mao escolheu e te desenha no rosto, uma boca que minha mão escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenha-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coindice exatamente a tua boca que sorri debaixo daquela que minha mão desenha.

Tu me olhas, de perto tu me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e, nossos olhosse tornam maiores, aproximam-se, sobrepõe-se e os ciclopes se olham, respirando indistintas, as bocas se encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os labios, apoiando ligeiramente a lingua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e grande silencio. Então, minhas maos procuram afogar-se bos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivessemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrancia obscura. E, nos mordemos, a dor é doce; e, se nos afogamos num breve e terrivel absorver simultaneo de folego, essa instantanea morte é bela. E já existe uma sõ saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As vezes eles voltam.....

Havia tempo que pensava nisso: retornar.
Tentei eu como uma espécie de Robson Cruoé deixar a ilha. Mas não se pode deixar a Ilha, ela está dentro. Grudada. Simbiótica.
Mesmo me aventurando em outros lugares, em outros planos, percebi que de nada adiantaria. É como o sonho do homem ridículo. Tenta-se uma morte, mas o que acontece é um delírio, um descolamento em que se pode achar um mundo diferente. Mas que não deixa de ser uma cópia, um simulacro da matriz. Tal e qual também a cópia dos problemas.
Tenho uma séria questão "admirável mundo novo" X "1984"... e que, sinceramente, não acho que sejam TÃO opostos assim. Bem, mas a questão é que me sufoca o olhar de quem não quero. A vigia silenciosa de quem não quero que saiba de mim ou de minha vida. Ou seja, abomino qualquer polícia do pensamento (1984). E tão muito me creio formatada como alfa ou beta...
Odeio padrões. Odeio restrições. Detesto convenções. Mas adoro a sensibilidade e o aconchego humano. Meus paradoxos...
E um deles vem com a visibilidade. Gosto de ser notada, mas jamais o palhaçado no picadeiro. O olhar do Big Brother (do livro e não o programa da TV para os menos avisados) já não me incomoda mais. A minha visibilidade não é minha, mas das minhas ficções. São as minhas produções. Minhas combinações de caracteres. E que as vezes reverberam com outras ficções.
Embora não haja comentários para mim, escritas. Sei e espero que tenham comentários internos. Comunicações. E é este todo meu desejo.
Eu como uma ilha, entre dois estados, lido com as ambiguidades e paradoxos da vida. Da minha vida. Das coisas como vejo, penso e sinto. Agora, o que acontece comigo, como sujeito e não como ser... bem, esta é sempre a margem do mistério que o Outro tem que manter.

"Estas explicações requerem tanta imaginação quanto a epidemia ou o naufragio. [....] Mas devo me convencer: não preciso fugir. Viver com as imagens é uma felicidade. Caso cheguem os perseguidores, esquecerão de mim diante do prodígio dessa gente inacessível. Ficarei." (trecho extraído de "A invenção de Morel" - Adolfo Bioy Casares)

Portanto o recado é o seguinte: voltei. Tomo o meu lugar. Minha demarcação.
Não morri e nem matei nada. Também pq na solidão não se pode morrer, apenas se desaparece. E num passe de mágica estou aqui, ali... em todos os lugares.
E sempre bem-vindos aqueles que chegaram e aos que retornam assim como eu.
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©2007 '' Por Elke di Barros