"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

domingo, 21 de junho de 2009

O Sol

Acho que antes era abençoada com a tristeza, porque era nela que escrevia, que produzia. Mas a escrita passou a ser algo banal, comum, sem brilho. Estava tudo adormecido em mim. Tudo era cinza e objetivo.
E de repente, numa entrega, que não havia ser diferente dado meu temperamento dramático e fleumático diante das coisas. Um novo formato se apresentou.
Na felicidade extrema, a necessidade de colocar em palavras, de eternizar o que poderia passar, voltei a escrever.
Agora, de volta ao estado original de tristeza pergunto-me se conseguirei escrever. Embora haja um fiapo de esperança que a felicidade retorne. O fio irá se esgarçar. Não tenho o novelo infinito de Ariadne. Desejo, assim como ela, sinalizar a saída do labirinto com o fio esticado de minha existência. Mas isso é mais um conto mitológico e a vida é real.
Digo de forma nao tão metaforizada, ainda tenho os braços abertos e as mãos extendidas. Ainda aguardo o convite para a contradança. Tantas músicas não dançadas, tantas músicas a serem dançadas novamente. Mas vejo cada vez mais o vejo dando passos para trás. Se afastando. A sua figura cada vez mais longe das pontas de meus dedos. A distância. O tempo. Os dois verdadeiros inimigos. O mau invísivel aos olhos, mas que tanto machucam meu corpo e meu coração.
O encontro dos amantes costuma ser retratado ao luar. Uma vez me disseste que a nós só restariam as sombras. Disse que não. Que tudo brilhava. Que tudo era radiante. Por isso recuso a lua. O nosso encontro era no sol. E ainda é. Não sei por quanto tempo. Sentar ao sol. Deixar o calorzinho aos poucos acariciar o corpo encolhido do frio.
Longe de ti é isso que faço. Procuro te encontrar no sol. Sento-me sem tu ao meu redor. Brinco de ciranda em mim mesma. Giro em meu próprio eixo de braços abertos aguardando seu abraço, o seu calor. Mas como já disse: não estás.
O sol ocupa seu lugar. Me banha por inteiro. O sol que acaricia meu rosto mostra que a vida existe. E assim será, ainda bem que resta o sol. E a ti também. A sensação desta felicidade quase clandestina, primária, singular. A simplicidade do corpo aquecido pelo sol era o que sentia ao estar contigo.
O barco sem mastro e vela pode ter um motor. E só resta imaginar a missão impossível de esgotar o inesgotável.

Viradas

Dia de 20 de junho é sempre um dia importante para mim. É o dia que marca a grande virada que dei em minha vida. Há 5 anos atrás minha vida quase se perdeu. Percebi o caráter frágil da vida que habita em mim. Vi que as raivas e as mágoas nada tinham a me oferecer. Senti no momento do impacto dos carros, em meu carro, a entrega de minha vida. Foi uma entrega total. Num primeiro momento a solidão e ao escuro. Quando fui deixada pela primeira caminhonete que havia batido em mim, entendi o quanto a vida do outro nada vale. O quanto a minha vida não valia para aquela pessoa que me deixou a beira da morte. Com o segundo impacto, frontal e violento. Fechei os olhos e entreguei minha alma a aquilo acredito ser Deus. Não fui levada por ele. Mas apartir disso encarei minha vida como uma benção. Entendi que a minha existência é minha. E a solidão disso, antes encarada com tristeza, hoje é o que me move.
Anos depois, no mesmo dia, me foi trazido pelo destino aquele que amei. Aquele que pedi para uma estrela cadente que ficasse comigo. Dei a ele meu coração, minha alma, meu corpo, meu tempo, meu espaço. Virei novamente o rumo que caminhava. Comecei um caminho junto, acompanhada por aquilo que havia pedido a uma estrela cadente.
Com ele eu quis ser mais. Queria apenas ama-lo. Foi o pedido que fiz. "Deixe-me gostar de ti." E foi assim, numa atitude da mais completa renúncia de mim mesma vivi os quase 3 anos de minha vida. Ele era meu eixo, meu centro, meu amor. Queria que a verdade e a bondade fossem as ferramentas para a construção das coisas. Queria ser um espírito livre dentro do amor. Um amor como sei jamais viverei outro. Um amor que eu recusava a proferir a palavra não. Por favor, não confundam isso com submissão. Longe disso. Era um amor tão profundo e verdadeiro que cada vez que acordava ao seu lado eu sentia que o amava mais.
Mas a vida se fez presente. E assim como no acidente ou como um acidente, as mágoas se acumularam. E aquilo que era felicidade infinita se tornou um pote de mágoa e me vi atirando quem mais amava a um estado profundo de angustia. Não suportei. Peguei minha malas, e na encruzilhada que se fez, tomei um caminho diferente do dele. O peso do relacionamento, da vida compartilhada, de um amor dolorido e cansado ficou do tamanho de uma mala depositada numa sala.
Dei para sonhar e fiz tantos desvarios. Tudo começou de súbito e o fim fora anunciado. Mas mesmo assim não deixa de ser súbito. As vezes me recuso a aceitar a finitude das coisas. Da vida. Do amor. Amigos dizem é o inicio. Eu digo é o fim.
É o fim do começo. É o tempo de virada. Estou em outro lugar, a espera de uma casa nova, aprendendo a viver um dia de cada vez. Mas com a coragem que em mim se plantou no dia em que quase perdi a vida. E com a fé no amor que passei a ter depois de te-lo conhecido.
Preciso viver intensamente. Tenho dito isso mais para mim mesma, como um mantra ao me deparar com os absurdos que não posso mudar.
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©2007 '' Por Elke di Barros