"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sexta-feira, 12 de junho de 2009

o que sera... o que fazer

Um dia meu bom pai me deu um presente. Estes raros presentes que nossos pais nos dão. não falo de amor, carinho, compreensão. Falo de coisas que nos são dadas para marcar a alma, na sua mais sincera singularidade.
Meu pai me deu um poema...



O Cisne



"A vida, manso lago azul algumas

Vezes, algumas vez mar fremente

Tem sido para nós constantemente

Um lago azul sem ondas, sem espumas

Sobre ele, quando desfazemos as brumas

Matinais, rompe o sol vermelho e quente

Nós dois vagando indolentemente,

Como dois cisnes de alvacentas plumas



Um dia um cisne morrerá, por certo

Quando chegar o momento incerto,

No lago, onde talvez a água se tisne

que o cisne vivo, cheio de saudade

Nunca mais cante, nem sozinho nade

Nem nade nunca ao lado de outro cisne."





O que meu bom pai me disse com tudo isso: n podemos ficar só.

Há alguém para mim, em algum lugar. E quando encontrar este alguém, ele nadará comigo nas águas. E de que azul calma, se farão ondas, porque rasgaremos juntos as águas plácidas.



No entanto, um amor como este não pode existir neste plano. para uma terra de leis confusas e sentimentos estranhos dos humanos. Da lei dos homens. Um amor como este deve ficar lá. Nos livros, na imaginação, no sonho.

Nossos frágeis corpos mortais não comportam o pleno, o absoluto. Vivemos para um dia morrermos. Até o cisne sabe disso. Mas nós ao contrário dos sabios cisnes buscamos pequenas mortes. Buscamos o consolo da racionalidade. Matamos aos poucos a vida que há em nós. Nos dedicamos a tristeza e a maldição dos deuses.

Sim, os deuses castigaram os mortais dando o que chamamos precariamente de amor. Isso não foi a toa. Sofremos o tempo todo por esta coisa. Seja por sua falta, seja pela sua presença, seja pela fuga dele.

Ao desafiar os deuses. Viver um amor pleno. O castigo não tardaria. A alma se atormentaria. Afinal, roubavamos o fogo divino. Estavamos a tocar no sagrado com nossas mãos profanas de mortais. Sujos em nossas realidadizinhas, em nossas assepcidade de sentimento. Mas nós nos lambuzamos de ambrosia no olimpo, fizemos nossos corpos transcender, chegamos a quase tocar as estrelas.

Agora, castigados, com a perda da paz da alma, estamos a levar pedras até o alto, até a porta do olimpo. quase tocamos tudo de novo. Mas a pedra rola, até o chão, até a realidade. E no dia seguinte olhamos para a pedra no chão. Arregaçamos as mangas, chegamos até onde queriamos estar. Ficamos o tempo suficiente para a pedra rolar de novo. E assim vemos que não passamos de meros mortais....

segunda-feira, 8 de junho de 2009

No Cais



Hoje me despedi de você. Me despedi como as mulheres que vão até o cais se despedir de seus homens que vão para a guerra. Acenam lenços brancos, dão beijos. Os mais ardentes, ou, o mais ardente para que fique queimando nos lábios até o findar da chama.
Choram. Choro. Chorei. Choro. Sei que não sou uma dessas mulheres. Não é você que vai para a guerra, que não é física e nem sua. A guerra é minha. E a despedida é minha, é nossa.
Somos dois a partir. Cada um com sua vida. Duas retas que se cruzam, mas seguirão cada sua ao infinito. Este é um dos postulados da geometria. Não poderia ser diferente. Sempre fomos formas. Sejam as formas que usamos externamente. Simbolo pessoal. O encontro de dois triangulos tão bem encaixados. Feminino e masculino. Assim como foi o encontro, o encaixe de nossos corpos. De planos passamos a plano único, unido, certeiro. Por último, o encontro das almas, sem forma definida, mas que.... mas que... pareciam se amalgamar, formar uma com a outra, forma desta vez, sem nome.
E ficará sem nome. Ñão é possivel que a tenha. Não é possivel esta forma existir. Quem sabe não seria esta a forma de felicidade e da grandeza. É como o amigo Pessoa. "(...) entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode existir".
Volto a imagem do cais, das mulheres e do barco a partir. Pode ser tudo isso. Mas deve e tem que ser sem choro. A tristeza tem que existir porque a felicidade não está.... por que uma tem que chegar quando a outra parte...
Me recuso a aceitar isso. Ficará a sensação do sobrar tanta falta no abraço e em outros lugares. A falta desta felicidade tão singela, espontanea e surpreendente. Não seria leal, nem justo e nem qualquer coisa, sofrer por isso.
Até a partida é uma felicidade. Não haveria partida se não houvesse chegada. A chegada de algo que julgava não existir, não ser deste plano, não ser desta vida, desta existência. Se choro agora, não é de dor nem de tristeza, mas por uma pura emoção sublime. De poder não mais escrever idealizações, mas sobre algo vivido e principalmente de todo corpo e coração.
Me orgulho de ter (achar-acreditar) sido um grande laço. E tenha certeza que você o foi e o é. Um grande laço.
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©2007 '' Por Elke di Barros