"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

segunda-feira, 9 de março de 2009

Its takes two tango

Desde o início da vida temos a sensação da completude, ou melhor, a ilusão. A primeira fantasia elaborada pelo aparelho psíquico (analógico, espero...rs) é: somos um ser único com nossas mães, simbióticos. E é aí que o bicho pega, passamos o resto de nossas vidas procurando embusca da sensação de completude, seja um amor romântico, seja por trabalho, seja por completar uma coleção de selos.

O primeiro exemplo, o amor romântico, que por convenções midiática-histérico-cinematográfica, com direito a roteiro fantasmático elaborado com cenas e diálogos, buscamos momentos de completa extase. A montagem da cena e a sua rigidez já demonstra a problemática do descolamento de qualquer possibilidade de realidade, ou melhor, há a relidade apenas como algo frustrante e terrivelmente infernal.

Por isso, chegamos ao segundo exemplo, o trabalho. O trabalho propicia a ilusão de que temos autonomia, que não precisamos do Outro. O que alimenta mais uma vez a fantasia primária com a mãe, isto é, para que eu preciso dela? Eu me mantenho sozinha, eu consigo as coisas por mim mesma sem a ajuda de ninguém!!! Outra vez a ilusão e o engano, porque mesmo assim ainda preciso do Outro para me reconhecer. Preciso do olhar que me olhe. Ou, exatamente o contrário, preciso do Outro para me constituir. Necessito dele, necessito do que vejo nele e acho que é meu para eu poder existir. Vivendo assim um falso self. Um eu inventado por aquilo que eu acho que Outro vê em mim. E recai assim em uma das perguntas mais velhas do mundo: Quem sou eu?

Ok, resitências a parte, ver que vivemos sim em uma matrix ou em um país das maravilhas, traz a sensação de que a gênese dos nosso problemas está na relação daquilo que é objetivamente percebido e aquilo que é subjetivamente concebido. E querido leitor, sinto muito, mesmo oferecendo meus préstimos como psicóloga, não há solução!!! E direciono isso a uma amiga... não há solução mesmo amiga!!!

Para fugir desta dor, e de tantas outras, criamos um espaço intermediário - uma área lúdica - da experiência, para que haja algum tipo de relação com o mundo com menos dor possível. É por este espaço que "apelamos" para medidas que nos "elevam", que nos façam ter sensação de trans-qualquer-coisa.

Somos inventores de nós mesmos. Sonhamos, deliramos, fantasiamos com esta elavação. Vivemos, então, mergulhados em nostalgias, na procura do objeto perdido, da emoção perdida. É quase numa melancolia, transfigurado em um morto-vivo, zumbi, fantasmam, entre outras figuras do halloween..não o vampiro... um dia explico porque. Mas é o apoio a esta imagem que quase leva a uma alucinação, ou num senso comum : a obsessão.

Jogamos com o Outro por causa da precaiedade da interrelação, o que fica entre uma realidade objetiva (do que se quer) - individualmente e pessoalmente - e a experiência do controle, da onipotência da situação, que por sua vez se inclina para o Outro. Prefiro considerar, assim, o amor como sendo a fusão de uma expressão de pulsão de sentimento (eros) e a idéia não elucidada nossas difildades, a idéia não elucidada do que vem a ser o Outro e como me relacionar com ele.

Titio Freud diz que o amor não admite apenas um, mas 3 OPOSTOS. Além da antítese "amar-odiar", existe a outra de "amar-ser amado"; além destas, o amar e o odiar considerados em conjunto são o posto da condição de desinteresse ou indiferença. A segunda dessas antíteses, "amar-ser amado", corresponde exatamente À transformação da atividade em passividade e pode rementar a uma situação subjacente, da mesma forma que no caso do instinto escopofílico (gostar só de olhar). Essa situação é a de "amar-se a si próprio", que consideramos como sendo o traço característico do narcisismo. Então, conforme o objeto ou o sujeito seja substituído por um estranho, o que resulta é a finalidade ativa de amar ou a passiva de ser amado - ficando a segunda mais perto do narcisismo. Talvez chegue-se perto de uma melhor compreensão dos vários opostos de amar, se refletir que a vida mental é regida por tres polaridas, as antíteses se traduzem, então: 1) Sujeito (ego) - Objeto ( mundo externo) - é lançada sobre o organismo individual numa fase inicial, e que é soberana em nossas atividades intelectuais (racionais) e cria pesquisa para a situação básica que esforço algum pode alterar. 2)Prazer - Desprazer - ligada a uma escala de sentimentos cuja a importância suprema está na consolidação do que é fantasia e do que é realidade. É a dominação dos estímulos. 3)Ativo - Passivo - o sujeito é passivo no tocante dos estimulos exteros, mas ativo através de seus proprios instintos.

O que, então, fica é que tudo não passa de pequenos jogos ilusórios. "O que é um flerte? Pode-se dizer que é um comportamento qu deve dar a entender uma aproximação sexual é possível, sme que essa eventualidade possa ser entendida como certeza. Em outras palavras, o flerte é uma promessa de coito, mas uma promessa sem garantia." (kundera - A insustentável leveza do ser)

E que até dentro de um relacionamento estabelecido com regras e confiança, os jogos são solitários. É apenas a trama da ilusão do eu se entrelação com a ilusãodo Outro. Ou quem sabe, de si mesmo num prazer sádico, de jogar com a realização ou não realização do Outro.

O jogo da conquista é isso? Mostrar para o Outro que a realização dele depende só a minha vontade? Constituir o espaço intemediário para provocar a fabricação de fantasias bricadeiras e depois deixa-lo apenas com as imagens? E não se iluda, novamente, isso pode ser efeito tanto na ausência como na presença. Tudo faz parte do cenário, é esta construção imagináira que traz de volta o que acontece dentro do "brincar".

Como tudo parece tirânico, sádico e dotado de maldade. Então, aqui está o golpe final, a relação "só" evolui quando com cuidado se faz uma zona em comum, com cuidado suficiente, em que as fantasias do eu (minhas) se ajustem às fantasias lúdicas do Outro (dele).

Mas não se esqueça, baby... a existência é solitária. E contra isso, não há nada que se possa fazer.


Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio/ E a minha ambição era trazer o universo ao colo/ Como uma criança a quem a ama beija./ Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,/ Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo/ Do que as que vi ou verei. (Acordar – Álvaro de Campos)

Nenhum comentário:

Powered By Blogger
 
©2007 '' Por Elke di Barros