"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quinta-feira, 23 de julho de 2009

uma história real

A menina brincava interessada com a caixa. Com as pernas rechunchudas abertas, entre elas a caixa. Abria a tampa com um brilho mailicioso no olhar. As folhas coloridas pareciam ter um sentido interessante.
Grita para a tia: _ Me vê uma caneta!
A tia da cozinha em voz de surpresa: _ Para que queres uma caneta....
A tia pára de lavar a louça e aguarda uma resposta. A menina se cala, em silêncio pensa numa resposta. Uma resposta que não faça a tia brigar com ela. Dilema.
_ Lorena! Para que queres a caneta...-a tia pergunta ainda junto ao balcão da cozinha.
A menina apertta a caixa entre as pernas, fecha os olhos e diz: _ Tia tem folhas que precisam de letras. Só vou colocar letras no que não tem.
A tia pega o guardanapo de pano, enxuga as mãos, já prevendo o que está a acontecer na sala. E o presumido inevitável está lá.
_ Lorena!!! não podes mexer nesta caixa!!! Ela não é minha nem sua... ela tem.. um segredo...
_ Um segredo!!!! - e mais curiosa ficou a menina - tia... vamos ver o segredo, eu e você.
_ Lorena - explica a tia - o segredo assim como a caixa, não é nem meu, nem seu. É de Clara. Ela mora aqui. Ela ganhou de alguém...
_ É um namorado, tia...
A tia balança a cabeça, pensa na história da amiga e diz: _ É.... de alguem que foi namorado dela. E ele mandou a caixa com o segredo, para que abram juntos. O segredo é dos dois.
A menina olhou para a tia sem entender ao certo. Pareciam faltar pedaços à história.
O pai da menina se aproxima. E a menina com seus olhos perguntadores diz ao pai: _ Pai, nesta caixa tem um segredo. Mas a tia disse que só pode ser aberto por duas pessoas. Vamos abrir...
O pai animado quer entrar na brincadeira. E diz: _ Vamos - já avançando para a caixa, mas seu olhar cruza com o da tia, e compreende. Não é para abrir a caixa.
O pai diz a menina em muxoxo: _Quem sabe outro dia...
A tia complementa: _ É, Lorena, quem sabe qdo a Clara chegar... Você pergunta a ela, isso se ela já souber do segredo.
A menina olha para a caixa, para sua tampa colorida e os papeis coloridos esperando por letras.
Entrega para a tia em resistência e diz: _ tá bom... vamos esperar a Clara.
A menina vai embora sem encontrar Clara.
Clara chega e ruma direto para a cozinha. A tia estava lá e logo lhe conta o passado com a sobrinha. Clara ri. Pensa no que os olhos de menina achariam dos papéis lá dentro. Os olhos de menina que nada entendem ainda sobre o amor. Os olhos de menina que ainda tiveram suas primeiras lágrimas derramadas por amor. Os olhos de menina que ainda não teve seu primeiro encanto.
O momento do encontro entre Clara e a menina não tardaria. Logo que a menina entra no apartamento, pergunta para a tia: _ Onde está a Clara... Ela está em casa....
Clara fala do quarto: _ A descobridora de segredos chegou...
A menina aparece. Acanhada. Na porta do quarto.
Clara retoma a pergunta em tom de brincadeira: _ é tu que sabes dos meus segredos....
A menina responde, sem titubear, rapida e direta: _ Só o da caixinha... - e aponta para a mesma dentro do quarto.
Clara sorri. A menina a encara com toda a sua meninice. Mas as duas se comunicam, afinal, eram duas mulheres. Estava no olhar.
A menina podia não entender exatamente, mas sabia do que se tratava.
A menina pergunta: _ Ele gosta de ti...
Clara fica admirada com a pergunta.
A menina retoma e insiste: _ Ele gosta de ti... ele te deu a caixa.
Clara sente as faces ruborizarem, Pensa na carta recebida. E diz secamente e embarassada: _ Gosta.
A menina pisca e diz: _ não sei ler. Não li o que tinha lá. Mas é algo que só pode ser lido por você e ele ... vcs sabem ler oque está lá, ne!
Clara olha para os olhos vivos da menina e pensa:"as coisas são tão simples que até uma menina de pouca idade vê." Pára se se repreende: _ Tola sou eu. Sábia é a menina que ainda não tem os olhos sob os véus da mágoa, malicia e "esperteza".
A menina não precisava ler. Não são as palavras e caracteres, porque ela saber do coração em seu estado total e absoluto.

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