"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

segunda-feira, 8 de junho de 2009

No Cais



Hoje me despedi de você. Me despedi como as mulheres que vão até o cais se despedir de seus homens que vão para a guerra. Acenam lenços brancos, dão beijos. Os mais ardentes, ou, o mais ardente para que fique queimando nos lábios até o findar da chama.
Choram. Choro. Chorei. Choro. Sei que não sou uma dessas mulheres. Não é você que vai para a guerra, que não é física e nem sua. A guerra é minha. E a despedida é minha, é nossa.
Somos dois a partir. Cada um com sua vida. Duas retas que se cruzam, mas seguirão cada sua ao infinito. Este é um dos postulados da geometria. Não poderia ser diferente. Sempre fomos formas. Sejam as formas que usamos externamente. Simbolo pessoal. O encontro de dois triangulos tão bem encaixados. Feminino e masculino. Assim como foi o encontro, o encaixe de nossos corpos. De planos passamos a plano único, unido, certeiro. Por último, o encontro das almas, sem forma definida, mas que.... mas que... pareciam se amalgamar, formar uma com a outra, forma desta vez, sem nome.
E ficará sem nome. Ñão é possivel que a tenha. Não é possivel esta forma existir. Quem sabe não seria esta a forma de felicidade e da grandeza. É como o amigo Pessoa. "(...) entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode existir".
Volto a imagem do cais, das mulheres e do barco a partir. Pode ser tudo isso. Mas deve e tem que ser sem choro. A tristeza tem que existir porque a felicidade não está.... por que uma tem que chegar quando a outra parte...
Me recuso a aceitar isso. Ficará a sensação do sobrar tanta falta no abraço e em outros lugares. A falta desta felicidade tão singela, espontanea e surpreendente. Não seria leal, nem justo e nem qualquer coisa, sofrer por isso.
Até a partida é uma felicidade. Não haveria partida se não houvesse chegada. A chegada de algo que julgava não existir, não ser deste plano, não ser desta vida, desta existência. Se choro agora, não é de dor nem de tristeza, mas por uma pura emoção sublime. De poder não mais escrever idealizações, mas sobre algo vivido e principalmente de todo corpo e coração.
Me orgulho de ter (achar-acreditar) sido um grande laço. E tenha certeza que você o foi e o é. Um grande laço.

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