"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A noite


Há algumas noites atrás eu fiz um convite para a noite. Disse para ela entrar e participar do meu infinito particular. Olhando os prédios lá fora, suas luzes, eu não fazia idéia do que estava fazendo.

A noite aceitou o convite e adentrou a minha parca racionalidade, tão debilidata, a coitada. Me encheu de idéia (a noite). Não há mais segredos, apenas mistérios que não me deixam dormir, porque a cidade não dorme. A cidade e a noite me chamam.

Já não são mais angustias e dúvidas que me motivam, muito menos qualquer tipo de certeza arrogante, é só o fluxo da vida se misturando com a cidade, com a noite, com o existir.

É um enfrentamento do meu racional (fique quieta) contra o meu desejo (o da queda na noite).

Não é a noite que está se perdendo no meu infinito, mas eu estou me perdendo dentro dela. Perdida entre as possibilidades infinitas da cidade. Quero me fazer presente, pertinente, ousada. Mas para o quê? Para mim. Para que a minha vida tenha fluxo. Que meu corpo tenha vida.

Não quero ser apenas um mero aparelho de reprodutor de idéias, quero viver as idéias. Quer ser uma explosão de pulsões, de pensamentos e de ação que sei que a noite é o contexto e a cidade é o lugar.

Silêncio. Tudo está frio e quieto agora. Fabrico meus próprios sonhos com os materiais que a noite me dá. Faço meu próprio som sem eco. Ocupo todos os espaços que me são possíveis. Estou só. Não na solidão, pq eu estou com a minha existência. Gosto disso. Gosto de ficar só e acompanhada... não só pela noite, a cidade, mas meus devaneios.

Não consigo me deitar, minha cama parece ter espinhos. E as vozes da minha consciência não me deixam, falam coisas que não consigo compreender agora. Ainda não.

Preciso me acostumar com essa nova linguagem, meus ouvidos estão tão acostumados com o banal, com o obvio, com o formalizado e normatizado. Não sei mais a linguagem dos sentimentos.

Eu não sei se estou me consumindo pelas minhas paixões de ser ou se estou impulsionada por estas paixões aprisionadas que a noite chama e a cidade tem condições de dar vazão. Tudo quer sair de mim, tudo quer se expandir.

A noite. Tudo é culpa dela. E não minha, por mais que eu tenha feito o convite. Chego a rir ironicamente da ironia. Pleonasmo.

Ser é a ironia e pleonasmo. Eu penso que penso. Eu sinto que sinto. Se acha o que se acha. E só se perder quando se deixa invadir pela leveza e delicadeza.

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