"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver

A dificuldade ou a impossibilidade de reconhecer o que falta para me fazer representar para o Outro, é a fonte de hoje. O ato de representar ao qual me refiro não é o da dissimulação. Mas é o ato de me inscrever, de começar a ter atributos, qualidades, enfim me tornar Coisa. Ser chamada de Coisa parece ser algo ruim, mas não é. Ser Coisa é ser a articulação constante entre a vontade, o desejo (núcleo libidinal) e a imagem especular (a representação). O que estou tentando dizer, ou especular, é o de Gozo e de Falta se articula na Coisa, o que se traduz: quando é que passo a ser Coisa (ter significado) para o Outro? O que estou a tematizar não é o objeto perdio, mas a falta do objeto, a falta do Outro. Quando o Outro sente a minha falta? Pois, não se fica de luto (sensação/certeza incerta/ da perda) por alguém de quem não se possa dizer: Você é minha Falta. Em outras palavras, só se pode fazer luto, daquele cujo desejos causamos. Trata-se de se reencontrar ou enfrentar o que causa o meu desejo, só que isso implica em defrontar a perdade relativa. Explico: para que eu encontre o Outro é necessário que eu me perca um pouco nele, e o Outro também. Porque é necessária a manutenção dos vínculos por onde o desejo (desta vez em duas vias - eu e Outro) está alojada. Só que há tantas certezas incertas que ao invés de causar luto, isto é, admitir que este Outro não me transformou em coisa e assim fazer meu total desinvestimento nele, que se cria a melancolia. A melancolia vem de uma falha na consumação do luto. Não basta apenas retirar certos instrumentos libidinais (párar de pensar, fantasiar e me enche de argumentos contrários e destrutivos). É preciso matar, aniquilar e fazer o tempo jogar uma tonelada de cal. Mas não há tempo, não há certeza. Não se sabe se o último predicado foi retirado para perder totalmente o sentido. Tudo parece óbvio: sabe-se que perdeu, quem se perdeu, como se perdeu (todas ações externas), mas só não se sabe o que em mim se perdeu. Parece que ao refletir sobre tudo isso, me vem apensa uma cena e sensação: sentir o coração do Outro na palma da minha mão. É o que aumenta a angústia melancólica, porque se forma o fantasma, o que cola, aquilo que esta no mais íntimo e estranho. Estranho porque é aquilo de mais profundo que tento esconder. É compreender por este Outro o que dele me faz falta, e assim produz meu desejo. è a revelação em que o Outro me falta e a idealização posso fazer dele, de mim, de nós. É a confrontação do impossível, é o faca a face com o objeto do meu desejo, é o momento mais perigoso: porque me desprendo de mim, reduzo meu investimento narcísico, para me direcionar ao Outro, porque o ideário não depende mais de mim para a prova de realidade. Digo tudo isso, porque chega um momento que não basta mais estar só pensando no Outro, é a implicação do contato, o que volta a sensaçã ode perda. Nã ose pode estar com este Outro. Não se tem certeza do contato. Não se sabe se o eu tem significado para este Outro. Tantos contra investimento o Outro deixa de ter sentido, ou em alguns momentos só sua imagem negativa para poder tampar o vazio da falta, da distância. Por isso é tão util a lógica falocentrica. É fácil e confortador usar a aparição do falto com valor de coisa. Afinal, tudo se explica pela guera de generos. Tudo se explica pelo falo. Pronto. Sem dores nem velas. Permanência no estado melancólico garantido, é só mais um deslocamento instituido pela lógica. Fico deslocando culpas para que assim não haja um real encontro com a falta, isto é, para que eu não saiba o que desejo. è mais confortador (de manter a dor) ficar esvaziada, assim, em estado melancólico. Recusando-me a construir uma borda que delimite esta falta e que constitua um lugar para o desejo. No entanto, é exatamente isso que faço ao escrever este texto. não suporto todas estas significações me invadindo, e estar só com o fantasma, já não me basta. Passo para o ato. O escrever. Umato presentificador de várias cenas, do Outro, do seu coração batendo na palma da minha mão.... mais e mais sentidos se formam. Por isso tudo que está mais na psique do que no rela, um devaneio. Ama tentativa do apagamento que na verdade é um reforço para a sua existência. Não há perda do Outro, só a sua queda, é o vir que não vem. É como Fernando Pessoa: é o estar entre a grandeza que não há e a felicidade que não pode haver.

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