"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Saudade é tudo que fica de alguém que não pode ficar

As indagações são revisadas, superpostas e confundidas. Acho que nem mesmo sei ao certo do que falo. Apenas falo. Escrevo. Sublimo.

Os ruídos farfalhantes da minha memória me perturbam, as luzes precárias da razão apenas faz um pequeno jogo de silhuetas. São arquiteturas mnemônicas em terreno arenoso. É um pequeno castelo de areia que testo a sua resistência subindo e descendo suas escadas.

As janelas que há em mim não estão completamente transparente para os que estão de fora. E não sei se um dia estarão... afinal, quem aguenta tanta claridade dentro de casa?

Tento bater com força, obstinada na porta da minha vida, fazer meu destino. Tento olhar pelas minhas próprias janelas invertidas no espelho embassado. Em vão. Eu sou o Outro.

O que aconteceria se eu entrasse em mim mesma enquanto Outro? Olho por cima do meu ombro e vejo a luz que emana de um Outro imaginado.

Preciso acreditar que este Outro está em algum lugar, que ele existe, mesmo quando não está na minha presença. A vida continua lá fora, a caravana passa mesmo com os cães a latir. A vida fora desta casa é bem mais emocionante.

Afinal, é este Outro, que não sou Eu, que não me oferece segurança. Me faz sair fora da casinha.

Ser toda ao contrário, não ser a segurança do movimento da vida. Dizer não a mesmice, ao mais do mesmo. É a incerteza que acompanha do dia seguinte, ou mesmo do instante seguinte. Continuo neste caminho que me leva ao Outro. É o abismo que se abre com a presença que invade os 7 buracos da minha cabeça mais a minha imaginação. Continuo a caminhar para o precipício. Observo tudo com um misto de admiração, porque nada se repete, nada é igual. É o mesmo que admirar, hipnotizada, o fogo. Sempre será o fogo, mas com formas diferentes e sempre a distância. De longe. A mariposa não pode se jogar no fogo.

Mas é nisto, neste momento, sem lugar, sem pouso desta mariposa que o movimento do não lugar, no talvez do erro, do acerto, do eterno, do passageiro....

Meu medo não é do passageiro, mas do eterno. Do que fica para sempre. Por isso meu abismar. Ao tocar mãos que não são minhas, de sentir os limites do meu corpo pelo abraço do Outro... não que acho que o abraço vai me segurar, muito pelo contrário... é o que sela o incerto infinito do sem chão abaixo de nossos pés.

Tudo isso não passa e pequenos e luminosos momentos que se tem ao permitir o Outro.

Esperar o outro momento é saber que nada mais será igual. E que tudo é único. E a busca pela repetição é como a busca pela verdade, inútil e dolorosamente estúpida. Nada será igual e esta é a graça, e a angustia.

No final, não é a dor que buscamos? É só na dor que sabemos estar vivos.

A paixão é uma dor gostosamente angustiante, é o não saber. Já o amor é o nomeado. É o conseguir suportar esta dor, controlando pelo suposto sabido e nomeado pela ação de atribuir : eu amo você. Esta frase mostra que não é mais um estado transitório de: eu estou apaixonado.

Amor é um verbo completo, que se sustenta. A paixão não se sustenta, evapora, morre sem nunca ter vivido.

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