"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

terça-feira, 16 de junho de 2009

O mito do eterno retorno

No meu livro favorito, a insustentavel leveza do ser, Kundera abre o livro com o seguinte raciocínio....

"O eterno retorno é uma ideia misteriosa, e Nietzche, com essa idéia, colocou muitos filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato:
O mito do eterno retorno nos diz, por negação, que a vida que vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não tem mais sentido. Essa vida não deve ser considerada mais importante do que uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV que não alterou em nada a face do mundo, embora 300 mil negros tenham encontrado nela à morte através de indescridíveis suplícios. "

O que quero dizer com tudo isso.... é simples... é humano e é verdadeiro.
Nossa vida, a minha, a sua, a dele é um eterno retorno. Em que repetimos indefinidamente as mesmas questões. Por vezes com roupagens diferentes. Mas os erros, os acertos e, principalmente, o mesmo sofrimento são evocados. É como estar para sempre preso a uma teia trágica da existência humana.
Bem, petulante e teimosa que sou, me recuso terminantemente a esta teia. Mas nem por isso deixo de cometer os mesmos erros. As mesmas dores.
Me coloco agora, diante desta tela fria, num dia cinzento para dizer que serei dona da minha própria historia. E que estou farta.
Não falo isso de forma ingenua. Cada vez mais me dou conta de que determinadas coisas só existem na minha fantasia e no meu imaginário. Em alguns momentos, situações surreais e idealizadas parecem se concretizar neste cotidiano duro e repetitivo. Mas isso não passa de ilusão.
O paradoxo se instala, para quem deveria-se dizer não se diz sim, para quem deveria se dizer sim se diz não. É o contrasenso do peso e da leveza. Em que a leveza é insustentável, e que acaba por assim ser elimanada. Sim, eliminada por uma atitude covarde e não enfrentamento.
Tudo não passa de palavras e atos imaginários. O se supunha ser real, na verdade era a tentativa de fazer um sonho se encarnar. E encarnou, mas não deixou de ser um sonho.
Os sonhos são como brumas, a insustentável leveza, e com o agitar das mãos ou a revelação do caráter verdeiro se desfazem.
E não poderia ser diferente no eterno retorno.
Deposita-se no outro a crença, o sonho, a vontade de um mundo diferente. O eterno retorno do sonho encarnado da paixão.
Mas tudo é tão frágil. Se desfaz com o movimento realista das mãos e das atitudes viciadas. não há coragem de romper. Não há coragem de se ir além. Se esconde, refugia-se.
A futilidade e a racionalidade são os eternos destruidores. E eles são exatamente comportados por aquele que mais deseja mudar.
É a covadardia de não se peitar as situações. Por isso o paradoxo do sim e do não, da leveza e do peso. Tudo não passa de ilusão. A vida que se supunha abrir não deixa, deixava e deixará de ser uma grande ilusão.
Confesso que todo este discurso parece catastrófico e depressivo. Mas não é. é humano. tiro de dentro de mim esta dor, transporto para tela, a elaboro a fim de que isso não mais habite em mim. E o dia cinzento lá fora, lidarei com um bom casaco e chás quentes.
Expurgo de mim esta angustia. A vivi e a viverei até o fim. Afinal, o fim de um sonho é dramático, traumático e completamente brega. Mas o vivo assim. E quando sair pela porta, darei os 10 passos para outro lugar. Para outra história. Outra vida.
Novamente para outro eterno retorno, mas com a ilusão renovada de que será diferente. Pois, este primeiro ciclio vicioso estou rompendo no início. Decidida a não vive-lo por inteiro. Conhece o trailer do filme. Dispenso perder meu tempo em viver a mesma coisa.
Foi belo e intenso. E isso basta. Digo esta é como a carta de Tereza a Thomas, vou embora por não suportar a sua leveza. Ao contrário lógico, vou embora porque não suporto estar sem a minha leveza, sem a minha paz de espírito.
Se fui leve naquela cia, serei outras vezes, em outras cias. Mas não surporto e não mais suportarei o peso da covardia que se repete em meu eterno retorno.
E tenho dito.

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