São com estranhos que compartilho meus segredos. São estas estranhas testemunhas anônimas, uma multidão de desconhecidos que vem mais dos meus segredos do que os que estão perto. Os meus momentos de mais pura descoberta é no frenesi da cidade, de seus passantes, de seus carros. Eu, mais uma anônima, vivo. Começa a construir minha nova persona. Estas pessoas que obscuramente presenciam as cenas mais delicadas, mais verdadeiras da minha ação. Testemunhas daquilo que deveria ser desconhecido. Protegem meu segredo, exatamente aos olhos de todos, na multidão. O aglomerado sem forma, sem rosto, apenas corpos. Corpos que encobrem o escândalo, o que seria visível, agora, diante das testemunhas silenciosas algo acontece. Algo que é como um acontecimento vulgar, ordinário e completamente imperceptível no vai e vem dos carros, dos corpos, das coisas completamente sem nomes. Só a ação do não-ser, do estranho, do desconhecido dentro do conhecido. Na verdade que faz parte de mim, faz parte do meu cenário e da minha fantasia histérico-cinematográfica. Este filme que poderia ser assistido por esta multidão que não se dá conta do espetáculo.
VOAR OU GALOPAR
Há 5 meses
Um comentário:
E você captou a alma de São Paulo... A "grande maçã" brasileira...
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