"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Menina e o Mar

Em historias que nos contam na cama há o mar que se apaixona por uma menina. Parece que a menina, nestas histórias, tem todo o domínio das coisas. A sedução da vida estridente da menina encantava/seduzia o mar. O amor se fazia presente neste momento.
A menina que se abria para o mundo, se abria para o mar. Fazendo descobertas ao deixar as ondas lhe invadirem, tocarem seu corpo e que encherem sua alma. Pode ficar a pergunta: por que o mar não se apaixona por uma lagoa? Ou por uma gaivota? Coisas do seu meio. Por que a menina?
Porque ele admirou a menina em sua entrega. Ele via a menina entregue ao vento. Dançando. Bailando. Movendo-se ao sabor do vento. A menina, no entanto, só entendia do vento. Entendia que aquele vento era o segredo das velas de seu barco.
A menina, certo dia, encarou o mar. Olhou para as suas profundezas. O mar lhe sorriu de volta. O vento enciumado percebia que a menina se encantava cada vez mais com o mar. Ela se encantava cada vez mais com o azul que continha todas as cores refletidas. Aquele olhar sem os olhos. Tudo aquilo que parecia ser contingente.
A imensidão se abriu. Parecia que em suas águas plácidas o mar lhe oferecia o que procurava. Ali ela podia extravasar toda a sua intensidade. E o mar parecia procurar aquela intensidade. Assim a menina começou a segredar ao mar seus pensamentos, seus afetos e poemas. Era só disso que ela entendia, que ela sentia e que ela queria. De nada ela entendia do amor, queria sentir a vida. Debruçada em seu barco, a menina sussurrava e cochichava seus segredos.
Até que um dia, a menina entrou no mar. E na volta o vento a chicoteou. Com o vento ela podia dançar, mas era levada, desarrumada. Não era tomada, sentia que podia quase voar, mas sempre com os pés no chão. A menina em sua necessidade eterna por suspensão, por delírio, por ser algo sem peso. Deseja ser algo apenas em movimento e sensação, entregou-se para o mar e sua imensidão.
Não sendo sereia, não sendo daquele meio, a menina precisava aprender a nadar. Se não morria afogada. Cada vez nadava mais e mais. Deixava o barco ancorado já sem velas, nem leme. Deixava lá. Não havia cais, nem certezas.
A cada braçada, porque no nadar era que ela se fortalecia. As águas escorriam por seu corpo, a acariciavam como um amante experiente o corpo a ser explorado da amada. E pelo contato com a água ela sentia o contato do seu corpo sendo dado. E a cada gotícula que restava e escorria era o prazer materializado. O delírio. Mas ela queria ir mais longe, ela queria o horizonte infinito.
Trilhar o mar entre braçadas e mergulhos. Mas ela é só uma menina. O corpo dela dita regras. As emoções afogam mais do que as próprias águas do mar. Logo se mostra que não importa quanto a menina bata as pernas e os braços tudo tende a afundar, a se findar.
Percebe como a história se inverte? Aquilo que antes era o encanto do mar, passa a ser a entrega da menina. Mergulho após mergulho sentia a sensação da suspensão. Tudo a volta da menina era o mar. Era o mar invadindo, ao redor, nela.
A menina nunca podia ficar muito tempo no mar. E cada vez que ela voltava para casa ficava o cheiro, a sensação e as lembranças do seu encontro com o mar. Ela ficava ansiando por voltar para o mar. Ao contrário do que o mar acreditava, a menina não tinha o menor domínio do amor. Amar o mar.
Cada vez mais ela ficava, o sol tentou avisar, as conchas fizeram desenhos de alerta e a areia se tornou movediça. Mas a menina em sua teimosia foi. Cada vez mais. Até que ela foi levada por ondas fortes, e nem um pouco cuidadosas de volta a terra. As ondas deixaram seu barco destruído a deriva. Ao chegar a praia, ela ficou a observar o mar. De longe.
Em terra firme, movediça e áspera ela olha o mar. Deseja. Faz fogueiras. Escreve seus poemas e os coloca em garrafas, lança ao mar. Espera que ele os leia. E assim ele entenda que não foi por falta de persistência, vontade e desejo.
Ao longe as palmeiras se movem. E ao lado da menina jaz o seu barco, sem mastro, sem velas e com seus remos quebrados ao redor. Em seu olhar, a menina tenta visualizar o horizonte, espera, aguarda.
Aposto contigo seja no evangelho ou nas leis que não sabes como terminará esta história. A vida da menina não passa de um dilúvio imaginário de quem escreve. Um amor como este não é para este plano. Para as leis confusas e sentimentos estranhos humanos. É para os livros, para o divino, o idealizado. É lá que estas coisas devem ficar. Em histórias que contamos na cama. Corpos mortais não comportam o pleno, o absoluto. Vivemos para morrer. Tudo se resume em nostalgias das besteiras simbolizadas que fizemos ontem.

Um comentário:

Unknown disse...

MEU DEUS!
ME DIGA O VAI NA ALMA DESSA PESSSOA ??? AMA E AMA E , QUEM SABE SE É AMADA ?? COMO MERECE?? E DESEJA ??? AFFFFFFFFFFFFFFF
BJOS DE AMOR, INCONDICIONAL , PARA ALGUEM QUE AMA E AMA , INCONDICIONELMENTE...MEU CARINHO, RESPEITO E AMOR...ASSIM DE GRAÇA, DO NADA...

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