"Meu livro e meu diário interferem um noutro constantemente. Eu não consigo separá-los. Nem consiliá-los. Sou uma traidora com ambos. Sou mais leal ao diário, porém colocarei páginas do me diário no livo, mas, nunca páginas do meu livro no diário, demonstrando uma fidelidade humana à autenticidade humana do diário" ANAIS NÏN

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O Leite de Chico

Fã confessa que sou de Chico, não resisti e comprei o novo livro (Leite Derramado) como companheiro para o feriado. Ledo engano. O livro trata de uma narrativa não linear de uma vida. O homem, Eulálio Assumpção, centenário, está em estado vegetativo em algum hospital.
Ok, mérito para Chico em como administrar a narrativa. Mas, em uma segunda confissão, que ainda prefio Budapeste. E que se tudo der certo, assistirei hoje.
Depois da leitura do livro, num dos dias frios que fez em SP, fiquei pensando sobre o despedício de vida. Sobre como deixamos as coisas tomarem conta de nós e não ao contrário.
Vi no passar das páginas uma vida fragmentada, mas muito parecida com tantas outras que já tive contato. Mais um ponto para Chico.
A relação entre Eulálio e Maltilde (sua esposa), mostra exatamente como passamos desapercebidos pelas coisas. Amortecidos. Grandes dores ou grandes alegrias sempre tomam a tonalidade acinzentada da racionalidade.

"(...) gostaria que meu pai me acompanhasse mais um pouco, gostaria sobretudo que Matilde me sobrevivesse, e não o contrário. Não sei se existe destino, se alguém o fia, enrola, corta. Nos dedos de alguma fiandeira, provavelmente a linha da vida de Matilde seria de fibra melhor do que a minha, e mais extensa. Mas muitas vezes uma vida para no meio do caminho, não por ser a linha curta, e sim tortuosa. Depois que nos deixou, nem posso imaginar quantas aflições Maltide teve em sua existência. Sei que a minha se alongou além do suportável, como linha que se esgarça. Sem Matilde, eu andava por aí chorando alto, talvez como aqueles escravos libertos de que se fala. era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher." (p.56)

Selecionei outro pequeno trecho.

"Com o tempo aprendi que o ciume é um sentimento para proclamar de peito aberto, no mesmo instante de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura. Sabendo-se despresível, apresenta-se com nomes supostos, e como exemplo cito minha pobre avó, que conhecia seu ciúme como reumatismo." (P.62)

Um comentário:

Verônica Lima disse...

obrigada, Lau, por compartilhar o genial Chico (pleonasmo?) conosco.

a saudade é tão grande, quanto imensidão da alma do Chico e dos que o admiram, como você.

beijos, beijos

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